"Do ponto de vista europeu, o caminho a seguir é claro: temos de avançar com a competitividade, a segurança, o alargamento e as reformas internas [da União Europeia] para que tudo possa ser um sucesso", afirmou o ex-primeiro-ministro português, que assume o cargo europeu em 01 de dezembro, no Fórum La Toja, que começou hoje na Galiza, Espanha.
Para Costa, o processo "vai ser muito difícil", mas, frisou, "temos que fazê-lo".
"É muito fácil apontar o dedo ao governo que está em funções. O problema é que a realidade que temos hoje é mais complexa do que a simplicidade de governar bem ou mal. Como políticos temos de ter uma grande humildade. E temos de ganhar algum tempo para não cometer erros de avaliação", observou durante um debate no Fórum La Toja.
Costa concluía desta forma a resposta à pergunta da moderadora do debate sobre o surgimento de movimentos políticos radicais em países europeus, durante a qual recordou a geringonça criada em 2015 em Portugal com a aliança do PS ao BE e PCP para conseguir uma maioria no parlamento.
Notando que toda a Europa vive "uma enorme fragmentação política" e um "momento complexo", Costa revelou o diagnóstico que fez relativamente à sociedade atual.
"Temos de entender esta complexidade e teremos de esperar alguns anos para a compreender. O problema é que temos de governar agora. Na minha perspetiva, uma das questões é que, nos países mais desenvolvidos, a globalização aumentou as desigualdades. A globalização tirou da pobreza muita gente em todo o mundo, mas nos países mais desenvolvidos não foi assim, e isso criou mal-estar", indicou.
Por outro lado, prosseguiu, "pela primeira vez, as novas gerações não têm a perspetiva de viverem melhor do que os seus pais".
"Isso é um problema para a sociedade. Os jovens cresceram em casas onde havia dinheiro para responder às necessidades, e agora vivem em casa dos seus pais sem conseguir alugar uma casa", lamentou.
Costa apontou ainda a necessidade de prestar atenção à saúde mental da sociedade como um todo, defendendo que ainda não se falou "devidamente sobre o impacto da covid-19".
"Não é possível termos passado pelo que passamos sem que haja um impacto. Foi muito doloroso e não tivemos a oportunidade de fazer a catarse. Na Segunda Guerra Mundial, houve um dia em que se celebrou o fim da guerra. Ninguém celebrou o fim da covid. Esse momento de catarse não existiu. Isso deixou marcas", sustentou.
E frisou ainda: "Ninguém pensou na possibilidade de, no século XXI, estarmos tão vulneráveis, que a vida era algo tão frágil".
O presidente eleito do Conselho Europeu também falou sobre a polarização da sociedade e do meio político, conceito abordado muitas vezes e confundido regularmente, na sua opinião, com o bipartidarismo.
"O bipartidarismo é um fator de moderação e não de radicalização. Quando tens dois partidos que disputam a maioria, eles têm de disputar o centro. Isso é um fator de moderação", explicou.
O ex-primeiro-ministro português e ex-líder socialista recordou que, em 2015, muitos não compreenderam a aliança feita com a esquerda.
"Quebrei um tabu, porque antes não havia diálogo entre a esquerda. Mas tínhamos de ter um governo maioritário no parlamento", afirmou.
Costa argumentou que deu tal passo por entender que "uma das mais-valias da democracia portuguesa é que a cidadania tem sempre duas alternativas, lideradas por partidos democráticos para liderar o governo".
"Quando estão cansados de um, pode escolher outro. Mas sempre no campo democrático", frisou.
António Costa participou no debate subordinado ao tema "Competitividade e Governança", que também contou com a presença dos antigos líderes do Governo espanhol Felipe González (1982-1996) e Mariano Rajoy (2011-2018).
O Fórum La Toja nasceu há seis anos, na Galiza (Espanha), como um espaço para a reflexão e defesa dos valores que definem as sociedades democráticas.
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