Apesar das críticas, Lavrov não especificou se a Rússia vai retirar os talibãs da lista de organizações "terroristas", apesar de vários responsáveis de Moscovo terem apelado nesse sentido nos últimos meses.
"Apelamos insistentemente aos países ocidentais para que reconheçam responsabilidades na reconstrução do Afeganistão após o conflito (2001-2021), levantem as sanções e devolvam os ativos de Cabul", declarou Lavrov na abertura de conversações sobre o Afeganistão em Moscovo, que juntaram enviados do Afeganistão, incluindo o chefe da diplomacia Amir Khan Muttaqi, e dos países vizinhos do Médio Oriente e da Ásia Central.
A Rússia está "convencida de que é necessário manter um diálogo pragmático com as atuais autoridades do Afeganistão", sublinhou Lavrov, argumentando que um "diálogo construtivo" com o regime talibã "corresponde aos interesses da segurança e do desenvolvimento económico da região".
Os talibãs estão na lista de organizações terroristas da Rússia desde 2003, mas, mesmo assim, Moscovo mantém relações com Cabul e recebeu os enviados afegãos em Moscovo.
A Rússia tem-se mostrado conciliadora desde a reconquista do poder pelos talibãs no Afeganistão, a 15 de agosto de 2021.
O chefe dos serviços de segurança russos (FSB), Alexander Bortnikov, elogiou hoje a cooperação "mutuamente benéfica" com os serviços especiais afegãos.
As autoridades russas mostram-se sobretudo preocupadas com a segurança das antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central que fazem fronteira com o Afeganistão e com o eventual aparecimento de novos grupos extremistas.
A Rússia, que tem uma base militar no Tajiquistão, país vizinho do Afeganistão, considera "inaceitável" qualquer instalação de infraestruturas militares "por parte de países terceiros" em território afegão ou em países vizinhos, "seja qual for o pretexto", afirmou ainda Sergei Lavrov.
Na década de 1980, a União Soviética travou uma guerra de dez anos no Afeganistão.
Muitos combatentes antisoviéticos tornaram-se posteriormente líderes dos talibãs.
Após os ataques da Al Qaeda contra Nova Iorque, Estados Unidos, em 2001, o Afeganistão foi alvo de uma intervenção militar internacional, no quadro da Aliança Atlântica, liderada pelas forças norte-americanas, na qual Portugal também participou.
Desde a reconquista do poder, o regime talibã tem endurecido medidas contra as mulheres afegãs sujeitando-as a maus tratos e impedindo-as de estudar ou trabalhar.
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