Quando, ao início da tarde, a música tomava conta 'showmício' de Daniel Chapo, no sul de Moçambique, o candidato ainda discursava a 2.200 quilómetros de distância, em Nacala Porto, Nampula, mas bastaram três horas para entrar a cantar e a dançar no palco, no Bairro de Machava, Matola, arredores de Maputo, ladeado de Filipe Nyusi, líder da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e atual Presidente da República.
Eram 16h40 (15h40 em Lisboa) e pouco depois, do alto dos seus dois metros, em cima do palco, Chapo avisava ao que vinha, no fecho da campanha para as eleições de quarta-feira: "Essas pessoas vão ficando cada vez mais ricas e o nosso povo cada vez mais pobre. Temos de acabar com isso. E esse é um combate que temos de fazer juntos".
Apontou a corrupção -- e a burocracia no Estado - como "males" que é preciso "combater juntos".
"Faz mal a todos nós, sem nos apercebermos. Porque o dinheiro, que se chama de dinheiro do Estado, é dinheiro do povo", disse, reconhecendo que são verbas que acabam por ser desviadas do investimento público e das necessidades da população.
Estas verbas acabam por ir "para uma pessoa ou para um grupo de pessoas", criticou, sublinhando que o combate deve ser tanto contra "o que corrompe, como aquele que é corrompido". E com isso, prometeu um Moçambique com "as mesmas oportunidades para todos os moçambicanos".
Bandeiras, panos, chapéus, saias e t-shirts com a foto de Chapo estampada ocupavam desde o final da manhã, com vários milhares de pessoas, o campo de Bedene, para encerrar 44 dias de campanha para as eleições gerais de 09 de outubro, também com a presença do antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano.
Daniel Chapo prometeu "trabalhar para a mudança para o melhor" em Moçambique, com uma "candidatura de renovação".
"Vamos fazer coisas diferentes para obtermos resultados diferentes. Porque se fizermos as coisas da mesma forma e aguardarmos um resultado diferente, é praticamente impossível", disse.
Jurista de profissão, Daniel Chapo, 47 anos, foi aprovado em maio pelo Comité Central do partido como candidato apoiado pela Frelimo à sucessão de Nyusi. Era então, desde 2016, governador da província de Inhambane, depois de cargos anteriores como administrador dos distritos Nacala Velha (Nampula) e Palma (Cabo Delgado).
Após criticar a "falta de experiência" dos restantes três candidatos presidenciais, Daniel Chapo sublinhou que a prioridade do seu manifesto eleitoral é a "paz completa", numa altura em que, a norte, a província de Cabo Delgado enfrenta, há sete anos, ataques terroristas.
"É um ataque a todos nós como moçambicanos. Atacar Cabo Delgado é como se alguém tivesse cortado o dedo pequeno do pé. É todo o corpo que vai doer. E a dor dos nossos irmãos que sofrem em Cabo Delgado é a dor de todos os moçambicanos. Vamos trabalhar para que a paz se restabeleça em Cabo Delgado", assumiu.
Garantiu atenção às necessidades da juventude, como emprego, habitação e formação, mas também da população em geral, ao nível das infraestruturas, passando pela construção de hospitais, estradas, portos e aeroportos.
"É uma candidatura de progresso. Queremos ver este Moçambique a crescer", assumiu, afirmando que é também "de esperança do povo moçambicano", que precisa de "ser acarinhado" e "compreendido".
"Servir o povo e nunca se servir. Esse é que é o nosso objetivo", avisou.
"Eu sou o vosso filho, sou o vosso irmão, daqueles que vai trabalhar para vocês, vamos trabalhar juntos. Ninguém trabalha sozinho", concluiu.
Moçambique realiza na próxima quarta-feira as sétimas eleições presidenciais - às quais já não concorre o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos - em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.
Mais de 17 milhões de eleitores estão inscritos para votar na quarta-feira, incluindo 333.839 recenseados no estrangeiro, segundo dados da Comissão Nacional de Eleições.
Concorrem ainda à Presidência Ossufo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição, Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, e Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos).
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