Freira e advogada brasileira vence prémio da ONU por apoio a refugiados

A freira e advogada brasileira Rosita Milesi venceu a edição de 2024 do Prémio Nansen do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), por ter prestado assistência social a milhares de deslocados, anunciou hoje a organização.

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Lusa
09/10/2024 06:38 ‧ 09/10/2024 por Lusa

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Migrações

Em comunicado, a agência da ONU sublinha que "a laureada mundial deste ano, a irmã Rosita Milesi, é uma freira brasileira, advogada, assistente social e criadora de movimentos, que há quase 40 anos defende os direitos e a dignidade de deslocados", tendo "prestado assistência pessoal a milhares de pessoas que se deslocam, ajudando-as a aceder a documentação legal, abrigo, alimentação, cuidados de saúde, formação linguística e acesso ao mercado de trabalho no Brasil".

 

"Como advogada, também tem sido fundamental na definição de políticas públicas. O seu trabalho na lei brasileira de 1997 relativa aos refugiados, por exemplo, ajudou a ampliar os direitos dos refugiados em conformidade com a Declaração de Cartagena sobre os Refugiados de 1984, a garantir uma maior proteção, inclusão e capacitação das pessoas forçadas a fugir e a alinhar-se com as normas internacionais", aponta o ACNUR.

Rosita Milesi, membro da Congregação das Irmãs Scalabrinianas, foi responsável pela implementação do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios em 1988 e fundou, em 1999, o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), que dirige atualmente.

Em 2017, iniciou o seu trabalho com deslocados venezuelanos no estado de Roraima (norte do Brasil), focado sobretudo na proteção de mulheres e crianças venezuelanas em situação de vulnerabilidade.

O trabalho desta religiosa brasileira, que tem também a nacionalidade italiana, já lhe valeu a atribuição de vários prémios de reconhecimento, entre os quais a "Medalha Sérgio Vieira de Mello", do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (2013), e a condecoração "Estrela da Solidariedade Italiana", pelo Governo de Itália, em 2006.

"Decidi dedicar-me aos migrantes e refugiados. Sinto-me inspirada pela necessidade crescente de ajudar, acolher e integrar os refugiados. Não tenho medo de agir, mesmo que não consigamos tudo o que queremos. Se eu assumir um projeto, viro o mundo 'de pernas para o ar' para o fazer acontecer"", afirma a freira e advogada de 79 anos, citada no comunicado do ACNUR.

Além de Rosita Milesi, a galardoada à escala mundial da edição deste ano do Prémio Nansen, o ACNUR distinguiu outras quatro "mulheres pioneiras" com os prémios regionais.

Em África, a galardoada foi Maimouna Ba, "uma ativista do Burkina Faso que ajudou mais de 100 crianças deslocadas a regressar às salas de aula e colocou mais de 400 mulheres deslocadas na via da independência financeira".

Já no continente europeu, foi distinguida Jin Davod, "uma empreendedora social que se baseou na sua própria experiência como refugiada síria para criar uma plataforma em linha que pôs em contacto milhares de sobreviventes de traumas com terapeutas licenciados que prestam apoio gratuito em matéria de saúde mental".

No Médio Oriente e Norte de África, o galardão foi atribuído a Nada Fadol, "uma refugiada sudanesa que mobilizou ajuda essencial para centenas de famílias de refugiados que fugiram para o Egito em busca de segurança".

Na Ásia-Pacífico, a vencedora foi Deepti Gurung, que "fez campanha para reformar as leis de cidadania do Nepal depois de saber que as suas duas filhas se tinham tornado apátridas, abrindo um caminho para a cidadania para elas e para milhares de outras pessoas em situação semelhante".

"Com demasiada frequência, as mulheres enfrentam riscos acrescidos de discriminação e violência, especialmente quando são forçadas a fugir. Mas estas cinco vencedoras mostram como as mulheres estão também a desempenhar um papel fundamental na resposta humanitária e na procura de soluções", destaca o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, também citado no comunicado.

Por fim, na edição de 2024 do Prémio Nansen, também o povo da Moldova recebe uma menção honrosa, por ter, frisa o ACNUR, "atuado como um farol de humanidade", já que, "pondo de lado os seus próprios desafios económicos, transformou rapidamente as suas escolas, espaços comunitários e casas em santuários para mais de um milhão de pessoas que fugiam da guerra na Ucrânia".

Criado em 1954, o Prémio Nansen para os Refugiados do ACNUR distingue indivíduos, grupos e organizações que tenham tomado medidas extraordinárias para proteger os refugiados, bem como as pessoas deslocadas internamente e os apátridas, tendo sido atribuído em 2022 à antiga chanceler alemã Angela Merkel.

A cerimónia de entrega dos prémios da edição de 2024 realizar-se-á na próxima semana em Genebra, Suíça, a 14 de outubro.

Leia Também: Israel quer retirar ACNUR de Gaza. Guterres expressa "receios profundos"

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