Síria tenta atenuar polémica após alterações aos manuais escolares

O ministro da Educação da Síria minimizou hoje as alterações feitas aos manuais escolares anunciadas pelas novas autoridades lideradas pelos rebeldes islamitas, após vários ativistas as terem denunciado, considerando-as baseadas em "ideologias extremistas".

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© BAKR ALKASEM/AFP via Getty Images

Lusa
02/01/2025 17:16 ‧ há 2 dias por Lusa

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Síria

"Os currículos de todas as escolas sírias permanecerão como estão até que sejam formados comités especializados para os examinar", disse hoje o ministro da Educação, Nazir Al-Qadri, numa declaração na rede social Telegram.

 

O grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações, tomou o poder na Síria após uma ofensiva relâmpago que levou à queda do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, a 08 de dezembro, e à sua fuga para Moscovo.

O novo Ministério da Educação sírio anunciou na quarta-feira várias alterações aos manuais escolares, na rede social Facebook, eliminando a propaganda do partido Baath, que esteve no poder na Síria durante mais de 50 anos, bem como poemas sobre as mulheres e o amor.

No poder durante a dinastia de Assad, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.

As alterações incluem a interpretação de um versículo do Corão sobre "aqueles que provocaram a ira" de Deus e "os desviados", referindo-se aos judeus e cristãos.

A frase nacionalista "sacrifica a tua vida para defender a tua pátria" foi também substituída por "sacrifica a tua vida pela causa de Deus".

"Apenas ordenámos a eliminação de partes que glorificam o regime deposto de Assad e adotámos imagens da bandeira da Revolução Síria em vez da bandeira do regime deposto", acrescentou.

O ministro salientou ainda que foram corrigidas informações "incorretas" no programa de educação islâmica, onde "certos versículos do Corão foram explicados incorretamente".

O anúncio das alterações causou polémica nas redes sociais.

"A educação baseada em ideologias extremistas pode moldar indivíduos cujas ideias ameaçam a segurança regional e internacional", alertou Shiyar Khaleal, ativista e jornalista curdo, no Facebook.

"A alteração do currículo escolar sob a supervisão do HTS não é apenas um perigo educativo, mas uma ameaça a longo prazo para o tecido social e o futuro da Síria", acrescentou.

O jornalista Ziad Haidar considerou que, com algumas destas alterações, estão a ser "visados" alguns "grupos religiosos específicos".

A comunidade internacional já afirmou que algumas das condições necessárias para apoiar as novas autoridades em Damasco incluem o respeito pelas minorias, etnias e religiões e a formação de um governo abrangente para a nova Síria, um país traumatizado pela guerra civil que eclodiu em 2011 e composto por sunitas, xiitas, cristãos, curdos, assírios e outros.

Embora o HTS - que tem na sua base ligações à Al-Qaeda - afirme ter renunciado ao jihadismo, as novas autoridades estão a tentar assegurar à comunidade internacional que respeitarão os direitos das minorias numa Síria multiconfessional e multiétnica.

Leia Também: Israel confirma operação em setembro para destruir fábrica de mísseis

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