De visita à capital britânica e em declarações aos jornalistas após reuniões com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Rutte vincou que "cabe aos aliados decidir como podem ser utilizadas as armas que entregam à Ucrânia".
Rutte disse que "legalmente" Kyiv pode usar as armas para atingir alvos na Rússia "se esses alvos representarem uma ameaça para a Ucrânia", mas, frisou, se os Estados-membros da Aliança Atlântica autorizam "no final, isso depende sempre dos aliados individualmente".
"É claro que discutimos este assunto. Estive na semana passada em Kyiv. Discutimos o assunto hoje. Mas, no final, a decisão cabe a cada um dos aliados", reiterou.
Zelensky tem insistido junto dos seus aliados sobre a necessidade de mais equipamento militar e a autorização para utilizar mísseis de longo alcance, nomeadamente os mísseis de fabrico britânico Storm Shadow, para atingir alvos em território russo.
Rutte e Zelensky encontraram-se hoje com Starmer em Londres na residência oficial do primeiro-ministro britânico, em Downing Street, onde o ministro da Defesa, John Healey, dos Negócios Estrangeiros, David Lammy, e o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, Tony Radakin, foram vistos chegar esta manhã.
Ao cumprimentar Rutte, Keir Starmer revelou que ele e Zelensky estiveram "reunidos toda a manhã, analisando o plano para a vitória".
"Se o conflito na Ucrânia nos mostra uma coisa, é que a NATO é tão importante hoje como era no dia em que foi fundada", referiu Starmer.
Rutte agradeceu ao Reino Unido por ser um dos principais protagonistas da Aliança e por ter desempenhado um papel de liderança no apoio à Ucrânia, através do treino de soldados e da ajuda militar.
"Isto tem a ver com a Ucrânia, mas tem também a ver com a defesa do Ocidente e com a forma como nos mantemos seguros", explicou.
O Presidente da Ucrânia está em Londres no âmbito de uma curta digressão europeia.
Zelensky vai encontrar-se em Paris com o Presidente francês, Emmanuel Macron, seguindo depois para Roma e Berlim para reunir-se com os respetivos líderes, a primeira-ministra Giorgia Meloni e o chanceler Olaf Scholz. O líder ucraniano também será recebido na sexta-feira pelo Papa Francisco.
Zelensky tinha previsto encontrar-se com os líderes ocidentais numa reunião na Alemanha durante o fim de semana, mas o encontro foi adiado porque o Presidente norte-americano, Joe Biden, cancelou a deslocação para acompanhar o impacto do furacão Milton no estado da Florida.
Na semana passada, o chefe de Estado ucraniano adiantou que pretendia aproveitar a ocasião para apresentar o "plano de vitória" de Kiev, documento que descreveu como "passos claros e concretos para um fim justo da guerra" contra a Rússia.
Os pormenores do plano de Zelensky foram mantidos em segredo, mas algumas pistas sobre o conteúdo do documento foram surgindo, incluindo a necessidade de uma atuação rápida em relação às decisões que os aliados ocidentais têm vindo a ponderar desde que a invasão em grande escala começou em fevereiro de 2022.
Por sua vez, Mark Rutte, ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, deslocou-se a Londres para se reunir com Starmer pela primeira vez desde que tomou posse, em 01 de outubro, como o 14.º secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Rutte, de 57 anos, sucedeu a Jens Stoltenberg, que esteve no cargo durante 10 anos.
O secretário-geral da ONU enfatizou, em declarações aos jornalistas à saída de Downing Street, que é difícil explicar a necessidade de continuar a apoiar a Ucrânia quando as forças russas estão a fazer avanços.
"Não estamos nisto apenas porque queremos apoiar a Ucrânia (...) mas também porque apoiar a Ucrânia nesta luta contra a Rússia é crucial para a nossa segurança coletiva aqui nesta parte da Europa, no Canadá, nos Estados Unidos, em toda a Turquia, na NATO, porque se [o Presidente russo, Vladimir] Putin conseguir o que quer na Ucrânia, isso terá uma séria implicação de segurança para todos nós na NATO", argumentou.
Sobre a possível reeleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos, Rutte lembrou que conhece o candidato republicano, com quem trabalhou quando foi primeiro-ministro dos Países Baixos.
"Sei que ele compreende perfeitamente e concorda comigo que esta luta contra a Ucrânia não é apenas sobre a Ucrânia, é também sobre a segurança e a futura segurança dos Estados Unidos. Ele sabe disso", garantiu.
Rutte mostrou-se disposto a trabalhar com Trump e rejeitou estar preocupado com o possível fim do apoio dos Estados Unidos da América (EUA) à Ucrânia.
"Não estou preocupado com isso, porque estou absolutamente convencido de que os EUA estão nisto porque compreendem que não é apenas pela Ucrânia, mas também por eles, e que de Washington a São Francisco, todos os EUA estariam menos seguros se Putin fosse bem-sucedido na Ucrânia", concluiu.
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