Os candidatos ao Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2024 resultaram de uma votação realizada hoje pelos membros das comissões dos Negócios Estrangeiros e do Desenvolvimento do Parlamento Europeu.
A líder do partido de oposição venezuelana Plataforma unitária, María Corina Machado, de 57 anos, e Edmundo González Urrutia, de 75, candidato que, segundo a oposição, venceu as presidenciais da Venezuela em julho, representam, segundo a organização do Prémio Sakharov, "todos os venezuelanos dentro e fora do país a lutar para restaurar a liberdade e a democracia".
María Corina Machado, cuja popularidade foi considerada "o fenómeno eleitoral mais esmagador da Venezuela", venceu as eleições primárias em 2023 para concorrer como candidata da oposição nas eleições presidenciais de 2024.
No entanto, refere a organização do Prémio Sakharov, "depois de ter sido arbitrariamente desqualificada pelo regime venezuelano, [foi] Edmundo González Urrutia que se tornou o candidato".
Face a um período de repressão generalizada que antecedeu as eleições, "incluindo desqualificações, detenções e violações dos direitos humanos", Nicolás Maduro declarou vitória nas eleições.
No entanto, "os resultados foram contestados por observadores independentes, incluindo a ONU" e "o Parlamento Europeu reconheceu González Urrutia como o Presidente legítimo da Venezuela, numa resolução de setembro de 2024", sublinha a organização.
Outro dos finalistas é Gubad Ibadoghlu, de 53 anos, um ativista dos direitos humanos do Azerbaijão, académico e crítico anticorrupção na indústria do petróleo e do gás que se tornou, em 2021, investigador na London School of Economics.
Foi detido no Azerbaijão em 2023, "depois de criticar a indústria de petróleo e gás do país e criar uma instituição de caridade para devolver recursos públicos roubados", adianta a organização em Estrasburgo, acrescentando estar agora em prisão domiciliária e poder ser condenado a até 17 anos de prisão continua.
A detenção deste ativista foi, segundo a organização Sakharov, o "início de uma repressão contínua contra os académicos e a sociedade civil", sendo que o Parlamento Europeu adotou, em abril passado, uma resolução na qual apela à retirada das acusações contra Ibadoghlu e ao levantamento da sua proibição de viajar.
Também na lista de finalistas constam os movimentos de defesa da paz Women Wage Peace, associação árabe-judaica formada logo após a guerra de Gaza em 2014, e o Women of the Sun, fundado em 2021 como um movimento para ajudar as mulheres a encontrar o seu lugar na cena política da Palestina.
No primeiro caso, a associação visa "promover soluções não violentas, respeitosas e mutuamente aceites para o conflito israelo-palestiniano, com a participação ativa das mulheres em todas as fases das negociações", explica a organização do prémio.
Por seu lado, a Women of the Sun é "uma associação independente de mulheres palestinianas, fundada em 2021, envolvendo mulheres, jovens e crianças da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de toda a diáspora palestiniana".
As duas organizações anunciaram, em março de 2022, uma parceria para "pôr fim ao ciclo de derramamento de sangue" e os seus líderes foram nomeados para o Prémio Nobel da Paz.
O vencedor do prémio Sakharov, que receberá 50 mil euros, será anunciado a 24 de outubro, depois de uma conferência da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e dos líderes dos grupos políticos.
No ano passado, o prémio foi atribuído a Jina Mahsa Amini e ao movimento Mulher, Vida, Liberdade no Irão, mas da lista de laureados constam nomes como Nelson Mandela, Malala Yousafzai, Denis Mukwege, Nadia Mourad, Xanana Gusmão, o Povo Ucraniano ou a ONU.
O Prémio Sakharov, batizado em homenagem ao físico e dissidente político soviético Andrei Sakharov, é o maior prémio de direitos humanos da UE.
Atribuído pelo Parlamento Europeu a indivíduos ou organizações todos os anos desde 1988, visa reconhecer o trabalho em prol da defesa dos direitos humanos e dos direitos fundamentais, em particular a liberdade de expressão, a salvaguarda dos direitos das minorias, o respeito pelo direito internacional, o desenvolvimento da democracia e a defesa do Estado de Direito.
[Notícia atualizada às 12h15]
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