Numa conferência de imprensa na embaixada iraniana em Lisboa, Majid Tafreshi disse acreditar que os Estados Unidos "estão a perder crédito [internacional] de dia para dia", embora possam ser uma superpotência "muito mais bem sucedida".
"Mas, com o envolvimento em guerras desnecessárias... sabe, o envolvimento... Como [Donald] Trump referiu uma vez, [os EUA) perderam 7.000 milhões de dólares só no conflito do Médio Oriente. Para quê? Mostrem-me uma fotografia em que cinco pessoas estejam (...) em caixões dos soldados norte-americanos, a dizer 'obrigado, Deus vos abençoe'", argumentou.
"Não se consegue encontrar uma fotografia destas em todo o mundo, porque as pessoas compreenderam que se tratava de uma invasão. O que estão a fazer no meu país? Se Trump ou [Kamala] Harris ignorarem este tipo de políticas más, nenhuma delas terá mais sucesso", sublinhou Tafreshi.
Para o diplomata iraniano, há 16 meses em Lisboa, os Estados Unidos precisam de se transformar em "avô, mas um avô a sério".
"Eles precisam de ser um avô, um avô a sério. Mas parece que são um padrasto para muitos países e estão a tentar abusar do poder contra outros. Esta será a sua escrita, a sua política, e os outros novos atores surgirão em breve", sustentou.
Tafreshi associou também os Estados Unidos a muitos problemas com que o Irão se confronta, como as sanções económicas "ilegais", que privam o país de muitos recursos, "que torturam todas as pessoas no Irão, provocando muitas mortes silenciosas".
"Algumas pessoas estão a morrer no hospital devido à falta de medicamentos suficientes. (...) Não podem falar sobre o 'hijab' [véu islâmico]", disse.
A obrigatoriedade do 'hijab', e em particular a morte da jovem Mahsa Amini sob custódia policial após detenção por alegadas infrações relacionadas com o seu uso, motivou protestos em todo o país em 2022, duramente reprimidos pelas autoridades.
O diplomata, confrontado com relatórios recentes de organizações de direitos humanos que denunciam a repressão em relação às mulheres e ao excesso de execuções, desdramatizou as duas questões, admitindo, porém, que, de vez em quando, há excesso de zelo da polícia dos costumes, "situação que é exagerada pela comunicação social".
"A polícia dos costumes está apenas a aconselhar verbalmente e, por vezes, a pedir-lhes que venham à esquadra para lhes explicarem o uso do 'hijab'. Isto baseia-se totalmente numa atitude de respeito. Não permitimos que a nossa polícia empurre, bata ou algo do género. Se isso acontecer, é ilegal. Não estou a dizer que, se alguns polícias forem menos tolerantes, ou se acontecer alguma coisa, isso talvez seja um caso de isenção, mas não é, não se pode expandir esta entidade", concluiu.
"O 'hijab' é um traje legal que já se baseia nos valores islâmicos reconhecidos na nossa Constituição. E em 1980, no referendo, 98,2 % mencionaram que queríamos ter esta Constituição. O povo votou também que os valores islâmicos devem ser respeitados e um deles é o 'hijab', que não é uma limitação, que não pesa cinco quilogramas na cabeça. É um lenço de cinco ou dez gramas, com um belo vestido, que as mulheres usam atualmente no Irão", argumentou.
Devido às "sanções ilegais", afirmou o diplomata, o sistema de controlo do programa nuclear iraniano "está sob pressão", mas mesmo com elas o país não se detém.
"Com todas estas sanções, o alfabetismo no Irão saltou de 50% para 95%. A Universidade do Irão é 10 vezes maior. Os estudantes são mais. O direito à compreensão, à liberdade, de escrever no Irão. Quantos milhares de livros são publicados por ano no Irão? Quantos filmes são produzidos no Irão? Estas são as realidades de que somos o país mais vivo do mundo", argumentou.
O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla inglesa) sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015, limitava as atividades atómicas do Irão em troca do levantamento das sanções internacionais. Mas, atualmente, o pacto está suspenso desde a retirada unilateral dos Estados Unidos, decidida em 2018 pelo então Presidente norte-americano Donald Trump.
As discussões para o relançamento do JCPOA, que envolvem Teerão e os Estados Partes (China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha), com a participação indireta dos Estados Unidos, estão paralisadas desde o verão de 2022.
Leia Também: Kamala 'brilha' em entrevista tensa. "Problema de americanos é com Trump"