Se não conseguir liminar o défice de "90 milhões de dólares" até ao fim do ano, vai deixar de poder pagar "salários, medicamentos e, inclusive, a eletricidade das escolas que continuam a funcionar, que não estão na Faixa de Gaza".
Por ocasião de uma conferência em Ceuta, disse à Europa Press que "as acusações de Israel visavam acabar com a maior agência humanitária que existe no Médio Oriente, sem a qual a população refugiada da Palestina ficaria à deriva".
No princípio do ano foi feito um apelo para obter 2,1 mil milhões de dólares "só para a emergência da Faixa de Gaza". Mas, até agora, só recebe 20% do pretendido.
"Israel pensa que se destruir a UNRWA acaba com o problema dos refugiados da Palestina, mas está errada. Os refugiados de Palestina existem porque as Nações Unidas os reconhecem como tal. Esta população não vai desaparecer do mapa se a UNRWA desaparecesse", apontou Martí.
A agência já esteve em situações similares, que a levaram a ter de deixar de pagar salários.
Apesar disso, os trabalhadores da UNRWA continuaram a sua atividade, salientou. "Temos o privilégio de trabalhar com pessoas muito conscientes, que continuarão a trabalhar com ou sem salário", disse.
Quase todos os trabalhadores são refugiados palestinianos, conscientes de que "se não trabalharem, não chega nem a alimentação, nem a educação, nem a saúde aos campos de refugiados".
Como confessou: "Trabalhamos com a população mais comprometida que uma agência da ONU pode ter. Isto é para mim o maior orgulho".
Admitiu, por outro lado, que estão mal em termos anímicos: "É difícil estar constantemente em uma situação tão crítica e tão vulnerável". O efetivo laboral já sofreu 229 mortes.
Sobre o território palestiniano, avançou Raquel Martí: "Gaza está arrasada. É um mar de escombros. Não resta nada",
Detalhou ainda que, "agora mesmo, existem 100 mil toneladas de alimentos do outro lado das passagens fronteiriças à espera que Israel autorize a passagem".
Pormenorizou, a propósito, que o Estado israelita "tem reduzido a entrada da ajuda humanitária", apesar de "várias disposições do Tribunal Internacional de Justiça" o obrigarem a aumentá-la.
"Se antes, há uns meses, em fevereiro, quando entravam 160 camiões por dia dizíamos que era uma quantidade ínfima, agora estão a entrar 13 camiões diários, em média. A consequência é a fome na Faixa de Gaza".
Para Martí, "é fácil contabilizar o número de mortos, número de feridos, número de hospitais atacados ou o número de casas destruídas, mas é impossível descrever o trauma que tem toda a população e as várias cicatrizes internas que esta situação lhes vai deixar, sobretudo o abandono que sentem por parte da comunidade internacional".
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