"O aumento dos pagamentos com moedas locais permite reduzir o serviço da dívida, aumentar a independência financeira dos países BRICS e minimizar os riscos geopolíticos, separando, tanto quanto possível no mundo de hoje, a política do desenvolvimento económico", disse Putin durante um encontro com a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do bloco, a ex-chefe de Estado brasileira Dilma Rousseff.
O líder do Kremlin (presidência russa) recebe a partir de hoje em Kazan cerca de 20 líderes estrangeiros, aliados ou parceiros, na cimeira anual dos BRICS, uma aliança de países emergentes que a Rússia quer ver competir com a "hegemonia" ocidental.
O grupo, inicialmente designado como BRIC, foi criado informalmente em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China (a primeira cimeira oficial seria em 2009) para defender uma maior representação dos países emergentes e em desenvolvimento nas organizações internacionais.
Em 2010, a adesão da África do Sul acrescentou a letra S à sigla.
Este ano, o bloco angariou mais quatro membros: Etiópia, Irão, Egito e Emirados Árabes Unidos.
A Turquia, membro da NATO com uma relação complexa com Moscovo e com o Ocidente, anunciou no início de setembro a sua intenção de aderir ao bloco. A Arábia Saudita está a ponderar a sua participação como membro de pleno direito.
O Presidente russo tem apelado regularmente à redução da dependência da economia russa do dólar, uma moeda estrangeira considerada "tóxica" por Moscovo, tendo reforçado o apelo à medida que o país vai sendo alvo de mais sanções ocidentais, impostas devido à ofensiva na Ucrânia lançada em fevereiro de 2022.
Putin tem também tentado encontrar uma alternativa ao sistema de pagamentos internacional Swift, que alimenta a maioria das transferências internacionais de dinheiro, do qual os bancos russos foram quase totalmente excluídos.
Recentemente, Putin vangloriou-se sobre o atual peso dos BRICS na economia mundial, afirmando que o Produto Interno Bruto (PIB) conjunto do bloco ultrapassa os 60 biliões de dólares.
Dilma Rousseff também apoiou a ideia de aumentar o uso de moedas nacionais nas taxas de câmbio, afirmando que "os países do Sul Global têm uma grande necessidade de financiamento, mas as condições para o obter são muito complicadas".
"É por isso que é muito importante garantir o financiamento em moedas nacionais", observou, segundo a tradução russa das declarações da representante.
O banco que dirige foi criado como alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, duas instituições controladas pelo Ocidente.
O encontro de Putin com Dilma Rousseff é o primeiro da maratona de encontros bilaterais que se realizará à margem da cimeira dos BRICS, que inicia na quarta-feira as suas atividades formais e que irá decorrer em Kazan, na república russa do Tartaristão, até quinta-feira.
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