"O que e como o fazemos ao abrigo deste artigo é da nossa conta", disse Putin, referindo-se ao artigo 4.º sobre a assistência militar mútua em caso agressão, consagrado no Tratado de Parceria Estratégica Global, assinado com a Coreia do Norte em junho e ratificado hoje por Moscovo.
O Presidente russo respondia ainda às informações da Coreia do Sul, dos Estados Unidos e da NATO de que vários milhares de soldados norte-coreanos teriam sido destacados para território russo para combater na Ucrânia.
Segundo Washington, "entre o início e meados de outubro, a Coreia do Norte mobilizou pelo menos 3.000 soldados" para o leste da Rússia, confirmando as informações fornecidas pela Coreia do Sul.
Os serviços secretos sul-coreanos garantiram ainda na semana passada que a Coreia do Norte tinha enviado até 12.000 soldados em auxílio à Rússia.
O Presidente russo evitou responder diretamente sobre o assunto durante a conferência de encerramento da cimeira dos BRICS em Kazan, mas não negou o envio de soldados norte-coreanos para o país.
"As imagens são graves. Se há, significa que há alguma coisa", respondeu Vladimir Putin, que rejeitou responsabilidades da Rússia na escalada do conflito e acusou o Ocidente de armar a Ucrânia.
A Coreia do Norte negou ter fornecido tropas à Rússia para a ofensiva na Ucrânia, com um representante de Pyongyang na ONU a classificar o facto como um "rumor sem fundamento".
O Presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, advertiu que o seu país "não ficará de braços cruzados" perante o envio de tropas norte-coreanas para a Rússia e anunciou que o seu país estudará "com maior flexibilidade" a possibilidade de fornecer armas à Ucrânia "em função das ações das forças norte-coreanas".
O Tratado de Parceria Estratégica Global foi assinado em 19 de junho, durante uma visita rara do Presidente Putin a Pyongyang, ilustrando a aproximação acelerada entre os dois países.
Os 397 deputados da Duma, a câmara baixa do parlamento russo, votaram hoje, por unanimidade, a ratificação do tratado que deverá ser examinado em 06 de novembro pela câmara alta do parlamento, o Conselho da Federação, antes de ser assinado por Vladimir Putin.
O artigo 4.º do tratado prevê a "assistência militar imediata" em caso de agressão armada por parte de países terceiros.
"No caso de uma das partes ser objeto de uma agressão militar por parte de qualquer outro Estado ou de vários Estados e se encontrar, assim, em estado de guerra, a outra parte deve oferecer-lhe imediatamente assistência militar ou outra, por todos os meios à sua disposição, ao abrigo do artigo 51º da Carta das Nações Unidas e em conformidade com a legislação russa e norte-coreana", refere o artigo.
O documento, que suscitou preocupações na Coreia do Sul e nos EUA, tem como objetivo "garantir a segurança e a estabilidade na península coreana e em toda a região do nordeste asiático", afirmou Putin.
Ainda assim, Putin admitiu que seriam necessárias negociações antes de aplicar o artigo 4º.
"Estamos em contacto com os nossos amigos norte-coreanos. Veremos como a situação se irá desenvolver", afirmou.
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