"Os canais de comunicação entre nós e os norte-americanos continuam a existir", disse Araghchi à margem de uma reunião governamental semanal, citado pela agência francesa AFP.
Os Estados Unidos e o Irão, outrora aliados próximos, romperam relações diplomáticas em 1980, pouco depois da Revolução Islâmica que derrubou a dinastia Pahlavi, apoiada por Washington.
Apesar disso, os dois países trocam informações indiretamente através da embaixada suíça em Teerão, que representa os interesses norte-americanos no Irão, e também através do sultanato de Omã, que geralmente atua como intermediário.
Durante o seu primeiro mandato como Presidente dos Estados Unidos (2017-2021), Donald Trump adotou uma política de "pressão máxima" contra o Irão e restabeleceu pesadas sanções contra o regime de Teerão.
"Temos diferenças, por vezes fundamentais e cruciais, com os norte-americanos e que não podem ser resolvidas, mas devemos geri-las (...) para reduzir as tensões", afirmou Araghchi.
O ministro dos Negócios Estrangeiros disse que os seus comentários eram concordantes com os do Presidente iraniano, Massoud Pezeshkian.
"Quer queiramos quer não, no que diz respeito aos Estados Unidos, teremos de lidar com este país na cena regional e internacional", disse Pezeshkian na terça-feira.
Pezeshkian é defensor do diálogo com os países ocidentais apesar das divergências, nomeadamente sobre o programa nuclear iraniano.
Em 2015, o Irão e as grandes potências, incluindo os Estados Unidos, chegaram a um acordo que previa o abrandamento das sanções internacionais contra Teerão em troca de garantias de que o país não procuraria adquirir armas nucleares.
Mas em 2018, Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo e restabeleceu as sanções contra o Irão.
Em retaliação, o Irão reduziu drasticamente as inspeções das suas instalações nucleares pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) desde 2021.
Teerão também aumentou consideravelmente as reservas de material enriquecido a 60%, perto dos 90% necessários para desenvolver uma arma atómica, de acordo com a AIEA.
O acordo nuclear limitava este nível a 3,65%.
O diretor da AIEA, Rafael Grossi, é esperado hoje no Irão para conversações sobre a questão nuclear.
Grossi tem no programa uma reunião na quinta-feira com Pezeshkian, no primeiro encontro desde a sua eleição como Presidente do Irão no verão.
O chefe da agência nuclear da ONU vai também reunir-se com Abbas Araqchi, que fez parte das negociações que permitiram o acordo de 2015, segundo a agência espanhola EFE.
Numa entrevista recente à televisão norte-americana CNN, Grossi garantiu que o Irão tem material nuclear suficiente para fabricar uma bomba atómica, mas deixou claro que o país não possui atualmente esse tipo de armas.
"Temos de negociar e trabalhar para que isso não aconteça", disse Grossi a partir de Baku, onde se deslocou para a 29.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29).
Grossi considerou a visita a Teerão muito importante num contexto de grande tensão internacional.
A visita ocorre numa altura em que se aguarda a resposta do Irão aos bombardeamentos israelitas de 26 de outubro, que foram uma retaliação ao bombardeamento iraniano de Israel de 01 de outubro.
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