A cidade de Alepo, na Síria, não era bombardeada desde 2016, mas na quarta-feira foi alvo de um ataque surpresa do grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham, contra o regime do presidente Bashar al-Assad. Desde então, já morreram pelo menos 225 pessoas e o antigo braço sírio da Al-Qaeda conquistou grande parte da segunda maior cidade do país.
Os 'jihadistas' e os seus aliados cortaram na quinta-feira a estrada vital que liga a capital Damasco a Alepo, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), e assumiram o controlo do cruzamento rodoviário entre Alepo e a cidade costeira de Latakia.
Caso o exército sírio não consiga controlar os ‘jihadistas’, a guerra civil, que dura há 13 anos e estava esquecida desde 2020 – altura em que também se registaram confrontos violentos -, pode voltar a tomar grandes proporções.
Exército promete repelir ataques de rebeldes
Perante este ataque surpresa, o Exército sírio afirmou, na sexta-feira, que vai repelir a ofensiva dos 'jihadistas' e dos seus aliados, enquanto o OSDH também confirmou que as fações armadas "conseguiram entrar nos limites dos bairros de Hamdaniya e Nova Alepo", no oeste da cidade, onde os rebeldes realizaram "um duplo ataque suicida" com dois carros armadilhados.
No entanto, os 'jihadistas' e aliados acabaram por assumir o controlo da cidade estratégica de Saraqeb, a sul de Alepo, a segunda cidade da Síria também já invadida, em dois dias. Uma tomada importante para os rebeldes porque os ajudará a "impedir que o regime avance em direção a Alepo", detalhou o OSDH.
A Rússia foi um dos primeiros países a reagir a este ataque surpresa, com a presidência a condenar os confrontos dos extremistas islâmicos, mas a recusar comentar notícias sobre uma visita do Presidente sírio Bashar al-assad a Moscovo para se encontrar com Vladimir Putin.
Questionado sobre se Bashar al-Assad estava em Moscovo, como afirmam alguns meios de comunicação e canais das redes sociais, Peskov afirmou que "não tem nada a dizer".
Rússia entra no conflito pela primeira vez em oito anos
Algumas horas depois, ainda na sexta-feira, o Kremlin entrava no conflito pela primeira vez em oito anos, com o exército russo a anunciar que a sua força aérea estava a bombardear grupos "extremistas" na Síria em apoio às forças do regime.
De acordo com este porta-voz, 200 combatentes foram "eliminados" nas últimas 24 horas, uma informação que a agência France-Presse (AFP) declarou não ter podido verificar.
O OSDH destacou estes primeiros bombardeamentos feitos pelos militares russos e sírios desde 2016, quando as forças leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad, garantiram o controlo da segunda maior cidade daquele país com apoio e cobertura da Rússia e de milícias afiliados ao Irão.
Segundo esta organização não governamental com sede em Londres e uma extensa rede de informadores no país, os ataques aéreos conjuntos da Síria e da Rússia tiveram como objetivo principal o bairro de Al Furqan, no oeste de Alepo, por onde os combatentes da aliança da Organização pela Libertação do Levante e de outras fações apoiadas pela Turquia estavam a entrar.
Do lado turco pediu-se a cessação dos ataque à cidade de Idlib e à sua região, o último bastião 'jihadista' e rebelde no noroeste da Síria, após a série de ofensivas das forças aéreas russas e sírias. Esta era a primeira reação oficial da Turquia desde o início da ofensiva-relâmpago.
"Batalhas ferozes" fazem "dezenas de mortos e feridos"
Apesar da ajuda da Rússia, a Síria não conseguiu travar os rebeldes e, no sábado, as Forças Armadas do país reconheciam que o grupo rebelde, ajudado por "centenas de terroristas estrangeiros", tinha recuperado "grande parte dos bairros de Alepo". O Ministério da Defesa da Síria dava conta de "batalhas ferozes" que estavam a causar "dezenas de mortos e feridos".
Horas depois, a Rússia anunciava que discutiu, no sábado, com o Irão e a Turquia, em conversações separadas, a situação "perigosa" na Síria.
Durante o telefonema entre os chefes da diplomacia russa e turca, Sergei Lavrov e Hakan Fidan, "as duas partes manifestaram a sua profunda preocupação com o perigoso desenvolvimento da situação na Síria, ligada à escalada militar nas províncias de Alepo e Idlib".
Entretanto, no terreno, as fações rebeldes fizeram progressos, assumindo o controlo do aeroporto de Alepo e de locais estratégicos nas províncias vizinhas de Idlib e Hama. O OSDH referiu que assumiram o controlo de "dezenas de localidades estratégicas sem qualquer resistência".
Já à noite, no sábado, o presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que o país será capaz de "derrotar os terroristas" e “defender a sua estabilidade e integridade territorial”.
São os primeiros confrontos desta magnitude em vários anos na Síria, onde uma guerra devastadora eclodiu em 2011, opondo o regime de al-Assad a forças rebeldes.
Leia Também: "A Síria que eu conhecia talvez já não exista"