"A situação política que acontece hoje em Moçambique deve-se à intolerância e da política de vingança que eles instalaram no país ao longo de 50 anos. E Moçambique precisa de novos caminhos, novos rumos, para reunir a família moçambicana e criar condições para que em Moçambique haja, de facto, uma verdadeira reconciliação nacional. E isso é só possível com um novo formato político em que a Frelimo esteja na oposição", afirmou Simango.
O candidato presidencial e líder do terceiro maior partido moçambicano assumiu a posição ao intervir, em Maputo, numa mesa-redonda para discutir os caminhos para a "promoção da paz no contexto da tensão pós-eleitoral", promovido pela organização não-governamental Sala da Paz, na sequência das eleições gerais de 09 de outubro, cujos resultados anunciados desencadearam protestos generalizados durante mais de 40 dias.
"Hoje, as manifestações que se fazem sentir, todo o mundo já começa a acreditar que o nosso país está a precisar de reformas. Está a precisar, de facto, de mudanças. Estas eleições que ocorreram este ano, na verdade, elas foram manipuladas. Na verdade, os resultados que foram anunciados pela Comissão Nacional de Eleições não refletem a vontade dos eleitores expressa nas urnas", acrescentou Simango.
O candidato voltou a defender que para o atual "impasse" pós-eleitoral "só há dois caminhos possíveis".
"O primeiro caminho é a recontagem dos votos, isso significa fazer-se a recontagem das 26.000 mesas de votação e cruzar com os editais, para ver se de facto aquilo que está nas urnas corresponde aos editais e às atas e para ver de facto quem é que venceu de verdade. E nós todos aqui temos a plena consciência que fazendo a recontagem dos votos vamos verificar as tais discrepâncias, vamos verificar as diferenças dos números, que resultaram não só do enchimento [das urnas], assim como da falsificação dos editais e das atas", apontou.
"Será que temos de aceitar mesmo resultados que não correspondem à vontade popular? A resposta é única. Não, não, não", retorquiu Simango.
Daí que, sublinhou, "resta um único caminho", que é "a anulação das eleições e a sua repetição", ficando por esclarecer o "vazio legal" da gestão dos próximos meses, nesse cenário, tendo em conta a necessidade de preparar nova votação.
"De acordo com as nossas leis, a legislatura da Assembleia da República, assim como os outros mandatos dos eleitos, só termina com a tomada de posse dos novos. Se os novos deputados não tomarem posse porque as eleições foram anuladas, será que o país terá um vazio legal? Será que o nosso país não pode continuar a ser governado", questionou.
Simango, que é também deputado eleito pelo MDM, defendeu que a atual legislatura "só termina com a tomada de posse da nova legislatura", pelo que "a governação legislativa nunca vai suspender a sua função".
"Talvez possamos discutir quem é que fará a gestão do Estado moçambicano, para poder garantir que os moçambicanos possam repetir o seu direito cívico de votar", disse ainda.
Apontou igualmente que é preciso "discutir as causas" das manifestações de contestação eleitoral que há mais de 40 dias se fazem sentir em Moçambique, "e não as consequências".
"E a primeira grande mudança que os moçambicanos devem conquistar é eliminar o aspeto do partido-Estado dominante (...) Para haver mudanças, é preciso as eleições serem repetidas", afirmou.
Pelo menos 76 pessoas morreram e outras 240 ficaram feridas por baleamento em Moçambique em 41 dias manifestações de contestação dos resultados eleitorais, indicou a Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
Segundo o relatório divulgado por aquela plataforma de monitorização eleitoral, que aponta dados de 21 de outubro a 01 de dezembro, há ainda registo de "mais de 1.700 feridos por causas diversas", em todo o país, nestas manifestações e uma estimativa de "mais de 3.000 detenções".
O candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais anunciados, apelou na segunda-feira a uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, a partir de quarta-feira, em "todos os bairros" de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08h00 às 16h00.
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