Ativista moçambicana denuncia "violência repressiva" ao receber prémio

A ativista moçambicana Anabela Lemos, que recebeu hoje o Right Livelihood Award, em Estocolmo, denunciou a "violência repressiva do Estado" no seu país, lamentando os muitos mortos e feridos e que a "impunidade" prevaleça face às exigências de mudança.

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Lusa
04/12/2024 22:04 ‧ há 23 horas por Lusa

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Moçambique

"Estamos numa crise climática, o chamado desenvolvimento levou-nos a isto, precisamos de mudar e a mudança é possível", declarou Anabela Lemos, da organização Justiça Ambiental!, distinguida "por reforçar as comunidades para que façam valer o seu direito de dizer não aos megaprojectos de exploração".

 

A ativista recordou que Moçambique "está a atravessar uma crise pós-eleitoral sem precedentes", denunciou a "violência repressiva do Estado" e observou que há muitos mortos e feridos e que a "impunidade" prevalece face às exigências de mudança.

A Justiça Ambiental! pronunciou-se contra vários projetos, como o projeto francês da TotalEnergies de extração de gás em Cabo Delgado, e criou alianças com a sociedade civil em cerca de vinte países para conseguir atrasar a sua implementação.

A cerimónia de gala de entrega do chamado Prémio Nobel Alternativo da fundação sueca Right Livelihood Award, realizada no Teatro Circo, em Estocolmo, enviou uma mensagem a favor da Palestina e dos direitos ambientais e dos povos indígenas.

A situação na Palestina, especialmente em Gaza, foi destacada pelo grupo Youth Against Settlements (YAS), mas também nas palavras de outros laureados, como Anabela Lemos e o grupo de investigação britânico Forensic Architecture.

O Right Livelihood Award, como é chamado o prémio para o trabalho social, já reconheceu quase duzentas pessoas e organizações desde que foi instituído em 1980 pelo escritor sueco-alemão e deputado europeu Jakob von Uexküll.

Anabela Lemos foi reconhecida por se opor a projetos de exploração em Moçambique, nomeadamente através da "Campanha Diga Não ao Gás", que chamou a atenção internacional para as lutas ambientais e de direitos humanos no país, explicou em comunicado a fundação sueca.

"A JA! é conhecida pela sua defesa global, particularmente, desde 2007, contra o projeto de extração de gás 'Mozambique LNG', de 24 mil milhões de dólares [cerca de 22 mil milhões de euros] em Cabo Delgado - na região norte do país - apoiado pela TotalEnergies", contextualizou.

A JA! criou alianças com a sociedade civil em mais de 23 países para contestar este projeto e, ao fornecer provas críticas no terreno dos danos do mesmo para as comunidades locais, "a organização expôs violações dos direitos humanos e crimes empresariais, atrasando, com êxito, o progresso do 'Mozambique LNG'", explicou.

De acordo com a fundação, "tendo em conta o ambiente politicamente opressivo de Moçambique, a JA! é uma das poucas organizações no país que se atreve a contestar projetos tão prejudiciais".

Durante mais de 20 anos, Anabela Lemos e a JA! têm trabalhado "de forma corajosa ao lado das comunidades afetadas" para combater projetos liderados pelo Governo e por empresas "que causam deslocações, prejudicam os meios de subsistência e intensificam as alterações climáticas", declarou.

Anabela Lemos e a JA! são os primeiros premiados pela fundação em Moçambique.

Entre os premiados pela fundação 'Right Livelihood' estão também Joan Carling, das Filipinas, "por levantar as vozes indígenas face ao colapso ecológico global e pela sua liderança na defesa dos povos, terras e cultura"; Issa Amro, da Palestina, através do projeto 'Youth Against Settlements' (Jovens contra os colonatos), "pela sua inabalável resistência não violenta à ocupação ilegal de Israel, promovendo a ação cívica palestiniana através de meios pacíficos", e a organização britânica 'Forensic Architecture' (Arquitetura Forense), fundada e dirigida por Eyal Weizman, "por ser pioneiro em métodos forenses digitais para garantir a justiça e a responsabilização [em casos de] vítimas e sobreviventes de violações dos direitos humanos e ambientais".

Leia Também: Homem ganha 33 milhões na lotaria, mas morre 24 dias após levantar prémio

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