Face à "atual incerteza", o Serviço Federal para as Migrações e os Refugiados alemão "ordenou hoje o congelamento das decisões relativas aos processos de asilo ainda em curso" para os exilados sírios, anunciou a ministra do Interior, Nancy Faeser, num comunicado.
"O fim da tirania brutal do ditador sírio Assad é um grande alívio para muitas pessoas que foram vítimas de tortura, assassínio e terror", afirmou a ministra.
Muitos sírios que encontraram refúgio na Alemanha desde a grande crise migratória de 2015-2016 "têm agora finalmente a esperança de regressar à sua pátria síria e reconstruir o seu país", acrescentou.
Menos de 48 horas após o derrube do Presidente Assad, foi lançado o debate sobre o regresso dos migrantes sírios nas principais economias europeias durante a campanha eleitoral, nomeadamente pela extrema-direita e pela direita conservadora.
"As possibilidades concretas de um regresso ainda não são previsíveis e não seria sério especular sobre este assunto numa situação tão volátil", acrescentou a ministra.
A Alemanha acolhe a maior diáspora síria na União Europeia (UE), com cerca de 974.136 pessoas com nacionalidade síria a viverem no país, tendo a maioria vindo como refugiados em 2015.
Destas, 5.090 foram reconhecidas como elegíveis para asilo, 321.444 obtiveram o estatuto de refugiado e 329.242 obtiveram proteção subsidiária, uma medida temporária, enquanto dezenas de milhares de outros casos continuam pendentes.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Sebastian Fischer, sublinhou que os combates continuam a decorrer na Síria.
"O facto de o regime de Assad ter terminado não é, infelizmente, garantia de uma evolução pacífica", afirmou numa conferência de imprensa.
Resta saber se esta nova situação irá conduzir a novos movimentos migratórios ou "se, pelo contrário, a situação irá estabilizar e as pessoas deslocadas e os refugiados terão a oportunidade de regressar à sua terra natal a longo prazo", afirmou Fischer.
Ao mesmo tempo, o Ministério do Interior austríaco declarou que "a partir de hoje, todos os procedimentos atuais serão interrompidos".
A decisão austríaca afeta cerca de 7.300 dos cerca de 100.000 sírios que vivem na Áustria, um dos países que recebeu mais requerentes de asilo na Europa.
Os casos daqueles que já obtiveram asilo também serão reexaminados e o reagrupamento familiar será também suspenso.
"Neste contexto, dei instruções ao Ministério para preparar um programa de repatriamento e deportação para a Síria", acrescentou o ministro do Interior austríaco, Gerhard Karner.
"A situação política na Síria mudou fundamentalmente, com uma súbita aceleração dos acontecimentos nos últimos dias", sublinhou o Ministério, considerando "importante reavaliar a situação".
Desde 2015, cerca de 87.000 sírios receberam uma resposta positiva ao seu pedido de asilo na Áustria, um país de nove milhões de habitantes.
Depois de uma ofensiva relâmpago iniciada pela oposição ao regime, os rebeldes declararam este fim de semana a capital da Síria, Damasco, livre de Bashar al-Assad, que esteve 24 anos no poder.
A ofensiva foi realizada em menos de duas semanas por uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia.
A HTS, herdeira da Frente al-Nusra, uma antiga filial da Al-Qaida na Síria, é uma organização política e paramilitar 'jihadista', de orientação sunita, considerada terrorista por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá, e também pela União Europeia.
Apesar de se congratularem com a queda do poder, vários países instaram os sírios a evitar a armadilha do extremismo.
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