No entanto, o número de potenciais retornados ainda é modesto, segundo os meios de comunicação turcos, que dão hoje destaque às palavras do Presidente islamita da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que saudou o "colapso total" do regime de Bashar al-Assad, ao mesmo tempo que pediu paz e estabilidade para "o povo sírio irmão".
A queda do ditador sírio Bashar al-Assad foi amplamente celebrada entre os refugiados na Turquia, mas após uma década de guerra civil, muitos deles têm as suas vidas feitas no país e não estão a considerar um regresso imediato.
"Talvez passem 200 ou 250 pessoas por dia, mas não há números oficiais", disse à agência noticiosa espanhola EFE um observador no posto fronteiriço de Cilvegözü, na província de Hatay, atualmente o mais movimentado.
"Muitos deles são jovens que não têm trabalho na Turquia. Os que têm família, filhos na escola, uma loja ou uma oficina não regressam para já", indicou.
De acordo com o canal turco Tele1, 216 sírios atravessaram Cilvegözü no domingo, mas apenas 98 deles o fizeram ao abrigo do conceito de "regresso voluntário".
Erdogan sempre proclamou que o seu objetivo é o regresso de todos os refugiados sírios à sua terra natal, mas de forma voluntária e ordenada, afirmando que, nos últimos anos, tem havido um pequeno mas constante fluxo de retornados.
"A ditadura do partido Baath, no poder com opressão e sangue durante 61 anos, entrou em colapso total. A Turquia está a atuar como um grande Estado e um grande vizinho", afirmou segunda-feira o Presidente turco num discurso proferido após uma reunião do Conselho de Ministros em Ancara.
"O regime [sírio] rejeitou os nossos apelos ao diálogo e não compreendeu o valor da mão que lhe estendemos", disse Erdogan, referindo-se às tentativas, nos últimos meses, de se encontrar com o então homólogo para restabelecer relações diplomáticas plenas com Damasco.
"Al-Assad fugiu, deixando para trás um milhão de mortos e um país devastado. O mundo deve saber que a Turquia atuou desde o início como um grande Estado e vizinho. Sempre defendemos a integridade territorial e a soberania da Síria", frisou.
"Os sírios de todos os setores e religiões são nossos irmãos", disse Erdogan, insistindo que a Turquia não tem 'qualquer intenção' de anexar território do país vizinho.
Prova disso é, disse, a reabertura de um posto fronteiriço de Yayladagi, na província meridional de Hatay, encerrado desde 2013 para permitir o regresso dos refugiados sírios a casa.
"Acredito que os fortes ventos de mudança que sopram na Síria irão beneficiar todos os sírios, especialmente os refugiados. À medida que a Síria se tornar mais estável, os regressos voluntários também aumentarão. O desejo dos sírios de regressarem à sua pátria de há 13 anos vai acabar", afirmou o Presidente turco.
Erdogan sublinhou também o mérito do seu país em acolher refugiados sírios e defendeu a sua decisão de não os expulsar quando os partidos da oposição turca exigiram a sua deportação durante a campanha eleitoral.
"Aconselho a oposição [turca] a abandonar o luto pelo colapso do regime de Damasco e a juntar-se à alegria dos sírios. Amanhã terminará um período negro na Síria e começará um período luminoso", frisou o presidente turco.
"O povo sírio deve decidir o seu destino. Árabes, turcomanos, curdos, alevitas, sunitas, nusairis (alawis), cristãos... todos devem viver em paz. Este é o objetivo e o sonho da Turquia", acrescentou.
No entanto, sublinhou que não aceitará como interlocutores na nova Síria nem o grupo Estado Islâmico (EI) nem a milícia curda YPG, que a Turquia considera um ramo do ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha curda da Turquia.
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