Este país caucasiano mergulhou numa crise política desde as eleições legislativas de 26 de novembro, ganhas pelo partido no poder Georgian Deram [Sonho Georgiano, em português], mas contestadas e consideradas irregularidades pela oposição pró-europeia.
O governo é também acusado pelos seus detratores de ter abandonado as ambições do país de aderir à União Europeia (UE).
Apesar do frio e do vento, vários milhares de pessoas voltaram a reunir-se hoje à noite em frente ao Parlamento em Tbilissi pela 15.ª noite consecutiva.
Muitos manifestantes agitaram bandeiras da UE e da Geórgia, enquanto outros bloquearam o trânsito na avenida principal, testemunharam os jornalistas da agência France-Presse (AFP).
"A nossa manifestação durará o tempo que for necessário para que o Sonho Georgiano seja expulso do poder", garantiu à AFP uma das participantes, Roussiko Dolidze, de 42 anos.
Comícios antigovernamentais também ocorreram em várias cidades da Geórgia, incluindo Batumi, Kutaisi e Zugdidi, noticiou a comunicação social local.
Espera-se um novo pico de tensão no sábado, para a eleição numa votação indireta. O futuro Presidente será eleito no sábado, pela primeira vez, por um colégio eleitoral e não por votação popular, no âmbito de uma alteração constitucional adotada pelo Sonho Georgiano em 2017 com vista a reforçar o seu controlo sobre o país.
A escolha recai entre a atual Presidente, Salomé Zourabichvili, antiga diplomata francesa que assumiu a chefia do Estado em 2018, e Mikheil Kavelashvili, ex-jogador de futebol do Manchester City, que foi impedido de se candidatar à presidência da federação de futebol em 2025 por não ter formação superior.
Curiosamente, ambos os candidatos presidenciais foram lançados pelo mesmo homem: Bidzina Ivanishvili, presidente do partido no poder, o 'Sonho Georgiano'.
Apesar de ter sido eleita com a ajuda do homem forte do partido no poder, Salomé Zourabichvili, hoje com 72 anos, afastou-se completamente dos ideais do 'Sonho Georgiano'.
Acérrima defensora do objetivo da Geórgia de se tornar membro da União Europeia, a atual Presidente juntou-se às fileiras dos detratores do Sonho Georgiano quando o partido começou a adotar uma postura de autoritarismo pró-Russia.
Vetou, sem sucesso, várias leis consideradas repressivas para a sociedade civil, os meios de comunicação social e os direitos LGBT, aprofundando a rutura com o partido no poder, que tentou por duas vezes, sem sucesso, demiti-la.
O candidato, anunciado na quarta-feira pelo presidente do Sonho Georgiano, é visto como um político anti-Ocidente de linha dura.
Embora seja mais conhecido por ter sido jogador de futebol - jogou pela seleção georgiana, pelo Dinamo Tbilissi e pelo Manchester City em meados da década de 1990 - Kavelashvili não é um novato da política.
Em 2022, deixou o Sonho Georgiano e fundou o seu próprio partido, o Poder Popular, de cariz eurocéptica e de extrema-direita.
'Repescado' agora pelo homem que verdadeiramente "mexe os cordelinhos" da política georgiana, o ex-jogador de futebol conta com o apoio do Governo e de toda a máquina do partido no poder.
Mas os resultados das presidenciais de sábado estão envoltos numa indefinição tão grande como a que vive o país atualmente.
Desde as legislativas de final de outubro, a Geórgia dividiu-se quase ferozmente entre os que apoiam a manutenção da aproximação ao Ocidente e, consequentemente, a adesão ao bloco dos 27, e os que preferem a proteção e proximidade da Rússia, na peugada dos tempos em que a pequena república pertencia à União Soviética.
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