Samir Ousman Alsheikh, que chefiou a penitenciária de Adra antes da guerra civil na Síria, foi acusado na quinta-feira de ter infligido "graves dores físicas e mentais" aos detidos, ou de ter dado a ordem, de acordo com um comunicado.
O homem de 72 anos é também acusado de enviar reclusos para uma ala específica da prisão, onde eram pendurados no teto e espancados ao mesmo tempo, ou de os submeter à "cadeira alemã", que consiste em esquartejar as extremidades do prisioneiro.
Samir Ousman Alsheikh foi também nomeado governador da província de Deir Ezzor em 2011.
Chegado aos Estados Unidos em 2020, solicitou a cidadania norte-americana em 2023. Foi detido e acusado em julho passado, em Los Angeles, por mentir às autoridades sobre o seu passado.
O antigo dirigente "é acusado de torturar dissidentes políticos e outros prisioneiros, de forma a dissuadir a oposição ao regime do então presidente Bashar al-Assad", disse no comunicado Nicole Argentieri, dirigente do Departamento de Justiça.
"As vítimas deste tratamento violento continuam a sofrer muito depois de os atos de tortura física terem cessado", acrescentou Argentieri.
"É um grande passo em direção à justiça", disse Mouaz Moustafa, diretor executivo da uma organização não governamental dedicada à Síria, com sede nos EUA.
"O julgamento de Samir Ousman Alsheikh irá reiterar que os Estados Unidos não permitirão que criminosos de guerra venham viver para os Estados Unidos sem serem responsabilizados, mesmo que as suas vítimas não sejam cidadãos norte-americanos", acrescentou Moustafa.
Caso seja considerado culpado, Samir pode enfrentar décadas atrás das grades.
"O nosso cliente nega veementemente estas acusações falsas e com motivações políticas", disse a advogada de Samir, Nina Marino, num comunicado.
Os rebeldes declararam na segunda-feira Damasco livre de Bashar al-Assad, após 12 dias de ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe).
O Presidente sírio, que esteve no poder 24 anos, deixou o país perante a ofensiva rebelde e exilou-se na Rússia.
No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.
Desde o derrube do governo, as portas de muitas prisões sírias foram abertas pelos rebeldes.
Imagens de prisioneiros abatidos e emagrecidos, alguns carregados por camaradas porque estavam demasiado fracos para escapar das suas celas, correram mundo.
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