"As pessoas têm o direito de regressar a casa (...), mas desaconselhamos regressos em grande escala", uma vez que as infraestruturas na Síria "não teriam condições para lidar com um tal afluxo", declarou Amy Pope, que dirige a Organização Internacional para as Migrações (OIM), durante uma visita ao Líbano.
A ONU estimou hoje que um milhão de refugiados sírios poderia regressar ao país de origem entre janeiro e junho de 2025, após a deposição do então Presidente sírio, Bashar al-Assad, por uma coligação de grupos rebeldes liderados por islamitas radicais, a 08 de dezembro.
A responsável acrescentou que "sem investimento na Síria (...), enviar pessoas de volta para lá só irá destabilizar ainda mais o país e originará provavelmente pressões incitando" a uma nova vaga de migração.
Segundo Pope, "dezenas de milhares" de pessoas fugiram da Síria desde a queda de Assad e ouve-se "dizer que as minorias religiosas estão a abandonar o país".
Membros da comunidade muçulmana xiita fugiram "não porque estejam a ser realmente ameaçados, mas porque estão preocupados com potenciais ameaças", num país de maioria sunita, observou.
Após a queda de Assad, que se apresentava como protetor das minorias, as novas autoridades comprometeram-se a instaurar um Estado de direito e a respeitar todas as minorias.
Responsáveis religiosos cristãos em Damasco "indicaram que as suas comunidades continuam muito preocupadas, apesar de não terem ainda partido", acrescentou.
A diretora da OIM sublinhou igualmente que a comunidade internacional quer "assegurar-se de que as vozes mais radicais dentro desta coligação não destabilizam um Governo que se quer mais aberto, democrático e inclusivo".
Lançada a 27 de novembro na Síria, e perante a retirada do Exército, apoiado pela Rússia e pelo Irão, uma ofensiva relâmpago derrubou em 12 dias o regime de Assad, há 24 anos no poder na Síria, obrigando-o a abandonar o país com a família a 08 de dezembro e a pedir asilo político na Rússia.
A ofensiva, que na realidade eram duas combinadas -- "Dissuadir a Agressão", lançada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS, em árabe) que inclui o antigo ramo sírio da Al-Qaida, e "Amanhecer da Liberdade", liderada pelos rebeldes sírios - foi a primeira em grande escala em que as forças da oposição conquistaram território em Alepo desde 2016, quebrando o impasse de uma guerra civil iniciada em 2011, que matou mais de 300.000 pessoas e fez sair do país quase seis milhões de refugiados e que, formalmente, nunca terminou.
Os Presidentes turco e russo, Recep Tayyip Erdogan e Vladimir Putin, respetivamente, acordaram, em 2020, um cessar-fogo, após meses de combates em Idlib.
O reacendimento do conflito fez-se com esta ofensiva que partiu da cidade de Idlib, um bastião da oposição, expulsando os rebeldes em poucos dias o Exército de Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia e pelo Irão, das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco, a capital do país, e pondo fim ao regime do clã Assad, iniciado em 1971, ano em que o pai de Bashar, Hafez al-Assad, tomou o poder através de um golpe de Estado.
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