Recorde de 73 pessoas mortas este ano a tentar atravessar Canal da Mancha

Pelo menos 73 migrantes morreram este ano ao tentar atravessar o Canal da Mancha de França para Inglaterra, o maior número de sempre, anunciou hoje a autoridade marítima do Canal da Mancha e Mar do Norte (Prémar).

Notícia

© Reprodução

Lusa
18/12/2024 12:16 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Migrações

Desde o aparecimento, em 2018, de "pequenas embarcações" para fazer a travessia, os números têm aumentado todos os anos, com os "traficantes a assumirem cada vez mais riscos", referiu a mesma autoridade, especificando que os barcos usados são de "má qualidade" e "inadequados" para o Estreito de Pas-de-Calais, onde as condições meteorológicas são muito difíceis e onde circula perto de 25% do tráfego marítimo mundial.

 

Este ano, a prática também ficou marcada por outra característica preocupante: o número de migrantes por barco aumentou significativamente.

Em 2024, a média de pessoas por cada barco subiu para 54 por travessia, o que representa um aumento de 50% face a 2022.

"Esta sobrecarga aumenta os riscos, sendo que 90% dos naufrágios envolveram barcos que transportavam 50 ou mais migrantes", explicou a Prémar.

Por outro lado, foi registado, este ano, um outro recorde, já que houve um número inédito de pessoas que morreram a bordo destes barcos insufláveis, não por naufrágio, mas por asfixia após um esmagamento, avançou a autoridade marítima.

O alargamento das zonas de partida na costa francesa, até à Baía de Somme ou mesmo Dieppe, mais a sul, também expõe os migrantes a travessias mais longas e perigosas.

Para fazer face a esta situação, as capacidades das equipas de salvamento têm sido reforçadas desde 2022.

O pessoal do Centro Regional de Vigilância Operacional e Resgate de Gris-Nez (Cross) aumentou 17%, e seis navios de alto mar, bem como um helicóptero de serviços de emergência estão agora constantemente mobilizados.

No entanto, determinados a chegar ao Reino Unido, os traficantes e os migrantes só aceitam ajuda dos serviços de emergência "como último recurso", perante "uma situação de extrema urgência", sublinha a Prémar.

A câmara municipal de Pas-de-Calais alertou ainda para a utilização de embarcações pouco insufladas e pouco motorizadas, sem coletes salva-vidas, e saídas organizadas "mesmo em pleno inverno".

Segundo denunciou, estão também a multiplicar-se as práticas de "separar famílias", mesmo com "crianças muito pequenas", provocando "movimentos de pânico", assim como o fenómeno dos "táxi-barcos", canoas que são lançadas à água e para onde os migrantes têm de nadar às escondidas.

Um novo fenómeno a que as autoridades chamam de "migrantes oportunistas" também aumentou significativamente este ano, acrescentou o procurador de Boulogne-sur-Mer, Guirec Le Brás, em declarações à agência de notícias francesa AFP, explicando que são pessoas que tentam "embarcar em barcos, no último instante, para não pagar a travessia".

Consequentemente, o perigo da zona costeira cresceu exponencialmente, admitiu a Prémar, passado a ser local de "quase 40% das mortes".

As fases de embarque e regresso à praia são "muitas vezes caóticas", criando riscos de hipotermia, afogamento e asfixia.

Guirec Le Bras apontou ainda a deterioração dos barcos, muitos sem piso, onde os migrantes ficam separados do mar "por uma membrana plástica", com um risco altíssimo de "rasgar o fundo" ou de "o barco se dobrar sobre si próprio e afundar".

Segundo a câmara municipal de Pas-de-Calais, 5.800 pessoas foram resgatadas no mar este ano e 871 tentativas de travessia foram impedidas pela polícia.

Entre 2022 e 2024, "um em cada cinco migrantes" falhou a sua tentativa de travessia, acrescentou a Prémar.

Em novembro, o ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, anunciou novos reforços policiais e uma missão de combate à migração ilegal.

No entanto, segundo as associações de ajuda aos migrantes, a polícia nas praias não dissuade as partidas, antes obrigando-os a afastarem-se, o que só prolonga as travessias e aumenta os perigos.

"O Canal da Mancha tornou-se um cemitério e os que estão no poder procuram outro lugar" para este fenómeno, denunciou o responsável da associação humanitária Utopia 56, Axel Gaudinat.

De acordo com uma contagem da AFP baseada em números oficiais, 35.338 migrantes chegaram ao Reino Unido em "pequenos barcos" este ano, o que representa um aumento de mais de 20% face a 2023, quando o número se ficava pelos 29.437.

Leia Também: Síria. OIM "desaconselha" por enquanto regresso em massa de refugiados

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas