"Em todo o país, as necessidades são imensas. Sete em cada dez pessoas precisam neste momento de ajuda", afirmou o subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência (OCHA), em entrevista telefónica à agência noticiosa francesa, AFP, a partir da Síria.
"Quero aumentar drasticamente a ajuda internacional, mas isso depende dos doadores. O fundo para a Síria tem sido historicamente, vergonhosamente subfinanciado, e agora temos esta oportunidade", declarou Fletcher.
"O povo sírio está a tentar regressar a casa quando as condições o permitirem, para reconstruir o seu país, as suas comunidades e as suas vidas", sublinhou o responsável das Nações Unidas, acrescentando: "Temos de os apoiar e aproveitar este momento de esperança. E se não o fizermos em breve, temo que esta janela se feche".
Metade da população síria foi deslocada dentro do país durante os quase 14 anos de guerra civil e quase seis milhões de pessoas procuraram refúgio no estrangeiro.
Responsáveis da ONU dizem ter recebido menos de um terço dos quatro mil milhões de dólares (3,8 mil milhões de euros) pedidos para a Síria.
Fletcher afirmou ter recebido "as mais sólidas garantias possíveis" da nova administração síria de que os trabalhadores humanitários terão "acesso livre" ao terreno.
Segundo ele, os próximos dias mostrarão se as promessas são cumpridas.
"Precisamos de acesso livre e desimpedido às populações que viemos ajudar. É necessário que os postos de passagem sejam abertos para que possamos encaminhar quantidades maciças de ajuda", declarou.
Durante a sua visita à Síria, Tom Fletcher reuniu-se, no início da semana, com o dirigente da coligação liderada por islamitas que tomou o poder, Abu Mohammad al-Jolani.
Lançada a 27 de novembro na Síria, uma ofensiva relâmpago derrubou em 12 dias o regime de Al-Assad, há 24 anos no poder na Síria, obrigando-o a abandonar o país com a família a 08 de dezembro e a pedir asilo político na Rússia.
A ofensiva, que na realidade eram duas combinadas -- "Dissuadir a Agressão", lançada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS, em árabe) que inclui o antigo ramo sírio da Al-Qaida, e "Amanhecer da Liberdade", liderada pelos rebeldes sírios - foi a primeira em grande escala em que as forças da oposição conquistaram território em Alepo desde 2016, quebrando o impasse de uma guerra civil iniciada em 2011, que matou mais de 300.000 pessoas e que, formalmente, nunca terminou.
Os Presidentes turco e russo, Recep Tayyip Erdogan e Vladimir Putin, respetivamente, acordaram, em 2020, um cessar-fogo, após meses de combates em Idlib.
O reacendimento do conflito fez-se com esta ofensiva que partiu da cidade de Idlib, um bastião da oposição, em que os rebeldes conseguiram expulsar em poucos dias o Exército de Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia e pelo Irão, das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco, a capital do país, e pondo fim ao regime do clã Assad, iniciado em 1971, ano em que o pai de Bashar, Hafez al-Assad, tomou o poder através de um golpe de Estado.
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