"As declarações do Presidente argelino pertencem-lhe", afirmou hoje um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês quando questionado sobre o assunto.
Nas mesmas declarações, a diplomacia francesa fez questão de recordar o compromisso firmado em agosto de 2022 pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma visita a Argel, para defender a vontade de França em manter as relações entre as duas nações, independentemente da elevada tensão entre Paris e Argel.
"É o roteiro que acordámos com as autoridades argelinas e que pretendemos continuar a desenvolver nos diferentes setores da cooperação bilateral", afirmou o porta-voz.
Neste sentido, o porta-voz da diplomacia francesa indicou que os dois países "partilham interesses e preocupações" em questões como a segurança regional, embora não se tenha referido ao Saara Ocidental, foco de renovadas tensões entre Paris e Argel depois de França ter reconhecido em julho que Marrocos tem soberania sobre a antiga colónia espanhola.
Durante um discurso proferido no parlamento argelino no fim de semana, o Presidente da Argélia atacou mais uma vez o plano de autonomia para o Saara Ocidental proposto em 2007 pelo Rei do Marrocos, Mohamed VI, afirmando que há influência francesa neste projeto.
Segundo Tebboune, o plano de autonomia é "uma ideia francesa e não marroquina", frisando: "Sabemos disso há décadas".
Abdelmadjid Tebboune, reeleito para o cargo em 2024, afirmou acreditar que as iniciativas apresentadas implicam escolher "entre o mau e o pior", quando o que está por trás do conflito na região é "uma questão de descolonização e de autodeterminação".
Na mesma intervenção, o líder argelino mencionou questões de todo o tipo, desde económicas a históricas, para recordar a "desolação" que foi a colonização francesa na Argélia.
Num momento em que as relações entre a Argélia e a França passam por tempos conturbados, Abdelmadjid Tebboune referiu-se ainda, de forma velada, ao escritor franco-argelino Boualem Sansal, detido em meados de novembro no aeroporto quando regressava de França, classificando-o como um "impostor".
O escritor foi preso depois de ter feito comentários polémicos sobre a colonização francesa na Argélia.
A França mostrou-se "muito preocupada" com a situação do escritor, como sublinhou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, prometendo ainda que a liberdade de opinião e de expressão continuará a ser defendida "sem descanso" a partir de Paris.
"Os serviços do Estado estão totalmente mobilizados para acompanhar a situação do nosso compatriota para que possa beneficiar da proteção consular que lhe corresponde enquanto cidadão francês", acrescentou.
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