A Guiné-Conacri, vizinho da Guiné-Bissau, é um dos vários países da África Ocidental onde os militares tomaram o poder e atrasaram o regresso ao regime civil.
O coronel Mamadi Doumbouya, líder da junta no poder desde 2021, concordou em 2022 em lançar uma transição democrática, mas o prazo então anunciado, 31 de dezembro de 2024, passou sem novidades.
Na sua mensagem de Ano Novo, Doumbouya afirmou, sem se comprometer com uma data, que irá assinar um decreto que regulamente um referendo constitucional para lançar o processo democrático.
Ativistas e grupos da oposição condenaram o anúncio como uma manobra para prolongar o regime militar, pelo que, num comunicado divulgado na segunda-feira, a coligação Forças Vivas da Guiné (FVG), que agrega vários partidos e movimentos da sociedade civil, pediu aos guineenses que permanecessem em casa como forma de protesto e acusou a junta de manter o país "refém".
Segundo as FVG, um homem foi baleado mortalmente e centenas de pessoas, na maioria jovens, foram detidas durante o último protesto.
As autoridades militares ainda não comentaram a alegação das FVG.
Um tribunal de Conacri condenou hoje um dirigente da oposição a dois anos de prisão por ter "insultado e difamado" o líder da junta militar, segundo a ag~encia de notícias France-Presse (AFP).
De acordo com os advogados de defesa, Aliou Bah, líder do Movimento Democrático Liberal (MoDel), foi acusado de ter "apelado aos líderes religiosos para quebrarem o silêncio" sobre a situação no país.
Aliou Bah foi também condenado por ter qualificado o CNRD, o órgão de direção da junta no poder, de "incompetente", segundo a mesma fonte.
A detenção de Bah é a mais recente de uma longa série de restrições às liberdades na Guiné-Conacri.
Antes do julgamento de Bah, dois opositores continuam desaparecidos desde a sua detenção por homens armados em julho, e dois oficiais, incluindo o antigo chefe do Estado-Maior do Exército e antigo número dois do regime militar, e um médico, morreram em circunstâncias obscuras na sequência da sua detenção nos últimos meses.
Um jornalista, Habib Marouane Camara, que dirige o portal informativo Lerevelateur224, foi detido em 04 de dezembro por homens fardados nos subúrbios de Conacri, segundo os seus advogados e um sindicato da imprensa, que afirmam desconhecer o seu paradeiro.
Nas suas felicitações de Ano Novo, o chefe da junta anunciou que 2025 seria um "ano eleitoral crucial para completar o regresso à ordem constitucional" na Guiné, sem indicar uma data.
Numa declaração divulgada segunda-feira pelo Departamento de Estado, os Estados Unidos manifestaram-se "preocupados" com o atraso e instaram "o Governo de transição a anunciar e a adotar um programa claro e medidas concretas para o referendo constitucional e as eleições democráticas".
Para além da marcação de eleições, subsistem preocupações quanto à credibilidade das eleições.
A junta militar dissolveu mais de 50 partidos políticos no ano passado, numa medida que alegou ser para "limpar o tabuleiro de xadrez político".
Segundo os grupos de defesa dos direitos humanos, a junta também apertou o controlo sobre os meios de comunicação social independentes: as redes sociais e as estações de rádio privadas são frequentemente cortadas, os portais de informação são interrompidos ou suspensos durante vários meses sem explicação e os jornalistas alvo de ataques e detenções.
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