Argélia considera "inaceitáveis" palavras de Macron sobre Boualem Sansal

As declarações do Presidente francês, Emmanuel Macron, segundo as quais a Argélia está a "desonrar-se a si mesma" ao manter o escritor Boualem Sansal detido, foram hoje classificadas como "inaceitáveis" pela diplomacia argelina e causaram protestos no país.

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© BENOIT TESSIER/POOL/AFP via Getty Images

Lusa
07/01/2025 20:51 ‧ há 21 horas por Lusa

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Argélia

"As afirmações do Presidente francês desonram, sobretudo, quem achou necessário fazê-las de forma tão casual e leviana. Tais afirmações não podem deixar de ser reprovadas, rejeitadas e condenadas pelo que são, uma ingerência desavergonhada e inaceitável num assunto interno da Argélia", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros argelino num comunicado.

 

"O que o Presidente francês apresenta errada e falsamente como uma questão de liberdade de expressão não é uma questão de liberdade de expressão, à luz do direito de um Estado soberano e independente. É essencialmente um ataque à integridade territorial do país, um crime punível pela lei argelina", acrescentou o ministério.

Na segunda-feira, Emmanuel Macron apelou a Argel para que libertasse o escritor Boualem Sansal.

"A Argélia, que tanto amamos e com a qual partilhamos tantos filhos e tantas histórias, está a entrar numa situação que a desonra, impedindo um homem gravemente doente de receber tratamento. Isso não é digno do que ela é", disse Macron aos embaixadores franceses reunidos no Palácio do Eliseu.

"Peço de imediato ao seu Governo que liberte Boualem Sansal", acrescentou.

Este "combatente pela liberdade" está "detido de forma totalmente arbitrária pelos responsáveis argelinos", segundo Macron.

Uns após os outros, os partidos políticos argelinos condenaram as declarações de Macron, que consideraram "inaceitáveis" e "irresponsáveis".

Para a Frente das Forças Socialistas (FFS, o mais antigo partido da oposição argelina), as palavras do Presidente francês são "repugnantes e inaceitáveis".

A declaração de Macron "reflete um desprezo patológico e a persistente incapacidade da França oficial de assumir o seu passado colonial e de romper com uma atitude paternalista e condescendente em relação às nações soberanas", escreveu a FFS num comunicado.

"Ao invés de seguir o caminho do reconhecimento pleno e completo dos crimes coloniais, França, sob a presidência de Macron, parece atualmente refém de correntes extremistas antiargelinas, racistas e islamofóbicas, e até, para alguns, nostálgicas da 'Argélia francesa'", acrescentou a FFS.

Por seu lado, a Frente de Libertação Nacional (FLN, antigo partido único) classificou como "imorais" as declarações do chefe de Estado francês.

A FLN "rejeita categoricamente qualquer ingerência estrangeira ou tentativa de dar lições sobre liberdades e direitos humanos", fez saber, em comunicado.

O Movimento da Sociedade para a Paz (MSP), principal partido islamita da Argélia, afirmou na sua página da rede social Facebook que as declarações do Presidente francês "refletem uma arrogância ligada a uma mentalidade colonial nefasta, distante do respeito pela soberania e da não-ingerência nos assuntos internos dos Estados".

Diversas figuras públicas e muitos utilizadores da Internet também criticaram as palavras de Macron sobre a prisão de Sansal.

Khaled Drareni, jornalista representante da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) no Magrebe, que passou 11 meses detido na Argélia entre 2020 e 2021, após ter sido detido durante o movimento pró-democracia Hirak, escreveu: "Senhor Presidente @EmmanuelMacron, nunca coloque 'Argélia' e 'desonra' na mesma frase".

Para Samir Ghezlaoui, "a Argélia pôs um fim definitivo à sua desonra a 01 de novembro de 1954", data do início da guerra de independência (1954-1962).

Crítico do poder argelino, Boualem Sansal, de 75 anos, está encarcerado desde meados de novembro por atentado à segurança do Estado, depois de ter sido detido à chegada ao aeroporto de Argel, e encontra-se numa unidade prisional de saúde desde meados de dezembro.

Segundo o diário francês Le Monde, as autoridades argelinas viram com maus olhos as declarações de Sansal ao meio de comunicação francês Frontières, de extrema-direita, defendendo a posição de Marrocos de que o território do país foi truncado durante a colonização francesa em favor da Argélia.

O escritor, autor de "2084: o fim do mundo", naturalizado francês em 2024, está a ser processado ao abrigo do artigo 87.º do Código Penal argelino, que pune "como ato terrorista ou subversivo qualquer ato contra a segurança do Estado, a integridade territorial, a estabilidade e o normal funcionamento das instituições".

Leia Também: Argélia "desonra-se a si própria" ao manter preso escritor Boualem Sansal

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