Mãe criou canal idílico onde partilhava a ideia de que era a dona de casa e mãe perfeita. Porém, por detrás das filmagens as coisas eram muito diferentes. Agora, pela primeira vez, a filha mais velha de Ruby Franke fala sobre o horror que viveu durante anos às mãos da influenciadora, que entretanto foi detida.
Tudo começou em 2015, altura em que Ruby decidiu criar o canal de Youtube '8 Passengers' ('8 Passageiros', em referência a si, ao seu marido e aos seis filhos). Aqui relatava a vida da família numerosa, na sua nova casa, no Utah, EUA. Rapidamente ganhou mais de 2,5 milhões de seguidores e milhões e milhões de visualizações.
O canal era composto essencialmente por vídeos das crianças, com as suas peripécias diárias. Porém, aquilo que parecia ser divertido para o público era uma tortura para os protagonistas, que passaram a ver a sua vida exposta sem o seu consentimento ou vontade.
"As nossas vidas giravam em torno da criação incessante de conteúdos, quer gostássemos ou não. Não podíamos espirrar sem sermos filmados de vários ângulos. A puberdade já é brutal, quanto mais com uma audiência", recorda Shari Franke, hoje com 21 anos.
A jovem recorda em particular um dia em que depilou, por engano, uma sobrancelha completa. O momento de agonia foi partilhado pela mãe, como se de uma piada se tratasse, enquanto a jovem estava de rastos.
A situação piorou quando Ruby começou a usar castigos para punir os filhos. Esses incluíam por exemplo obrigá-los a correr ou a proibi-los de comer, a usar fita adesiva para lhes prender os pés ou mãos, quando não se comportavam como ela queria.
"Na sua lógica retorcida, ela estava a moldar a obediência, a esculpir a conformidade com cada golpe violento", acrescenta a filha mais velha da mulher, recordando que as "bofetadas que esta lhe dava, não eram suficientemente fortes para deixar marcas. Mas eram suficientes para instalar o medo".
Quando a forma de educar começou a ser partilhada, muitos internautas começaram a questionar o interesse dos conteúdos que estavam a ver. Eventualmente, muitos chegaram mesmo a criar petições para que o canal fosse eliminado.
A situação chegou à justiça quando uma das crianças fugiu de casa e foi pedir comida a um vizinho. Ao reparar que o menor apresentava ferimentos, estes alertaram as autoridades que acabariam por deter Ruby, por crueldade infantil.
Porém, segundo Sharya, a mãe não se identifica como se tratando de uma abusadora. “Na sua mente, ela não era uma figura controversa que estava a ser responsabilizada [pelos seus atos], era uma mártir, crucificada pela sua dedicação inabalável ao amor", refere.
Ruby Franke foi condenada a uma pena até 60 anos de prisão por quatro crimes de abuso agravado de crianças. A mulher vai cumprir uma pena efetiva até 30 anos, já que é o tempo máximo por cúmulo jurídico no estado de Utah.
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