Cecilia Sala esteve três semanas detida no Irão. Porquê? A fita do tempo

O Governo italiano anunciou, esta manhã de quarta-feira, que a jornalista tinha sido libertada "graças a um intenso trabalho nos canais diplomáticos e de informação". O que aconteceu?

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© Reuters

Daniela Filipe
08/01/2025 19:42 ‧ há 14 horas por Daniela Filipe

Mundo

Cecilia Sala

Ao fim de quase três semanas detida na prisão de Evin, em Teerão, a jornalista italiana Cecilia Sala regressou a casa, esta quarta-feira. A jovem de 29 anos, que foi detida a 19 de dezembro "por violar as leis da República Islâmica do Irão", aterrou no Aeroporto de Roma Ciampino e regozijou-se por "este parêntesis finalmente ter acabado". Mas, afinal, o que aconteceu?

 

O Governo italiano anunciou, esta manhã de quarta-feira, que Cecilia Sala tinha sido libertada "graças a um intenso trabalho nos canais diplomáticos e de informação".

À chegada ao aeroporto, a jovem, que se fazia acompanhar pelo diretor dos serviços secretos italianos, Giovanni Caravelli, era aguardada pelos pais, o companheiro – também ele jornalista e correspondente de guerra –, a primeira-ministra, Giorgia Meloni, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, e o presidente da Câmara de Roma, Roberto Gualtieri.

"Agora só tens de manter a calma. Estou aqui para te agradecer e para te dizer que foste forte", disse-lhe Meloni, com as mãos pousadas sobre os seus ombros.

Emocionado, o pai de Cecilia Sala confessou estar "orgulhoso" da filha. Elogiou também "o excelente trabalho" do governo italiano, tendo comentado que teve "a impressão durante este período de que se tratava de um jogo de xadrez, mas em que não havia apenas dois jogadores".

Jornalista italiana libertada pelo Irão recebida por Meloni em Roma

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A jornalista italiana Cecilia Sala libertada pelo Irão, onde estava detida desde 19 de dezembro, regressou hoje a Roma, sendo recebida no aeroporto de Ciampino pela primeira-ministra, Giorgia Meloni, que enalteceu a sua força ao longo das últimas semanas.

Lusa | 18:11 - 08/01/2025

Isto porque, apesar dos desmentidos de Teerão, muitos analistas consideraram que a detenção da jornalista esteve relacionada com a do engenheiro Mohammad Abedini, que ocorreu três dias antes, no aeroporto de Milão-Malpensa, a pedido dos Estados Unidos, onde é acusado de fornecer componentes de drones à Guarda Revolucionária Iraniana.

É que, de acordo com a imprensa italiana, Teerão poderá ter utilizado a detenção da jovem para tentar negociar melhores condições para Abedini, entre elas conseguir que Roma não extradite o engenheiro para os Estados Unidos.

Ainda assim, o ministro da Justiça italiano, Carlo Nodio, garantiu hoje à tarde que nunca foi discutida a libertação do iraniano detido e que a sua eventual extradição para os Estados Unidos dependerá da avaliação que será feita "segundo parâmetros meramente jurídicos".

Jornalista estava "sozinha numa cela" com "iluminação néon" 24 horas por dia

O governo italiano deu conta da detenção de Cecilia Sala a 27 de dezembro. Na altura, António Tajani adiantou que a jovem estava "bem de saúde" e "sozinha numa cela".

"Está detida, o que não é ideal, mas está a ser alimentada e está numa cela individual. Parece que ela está a ser tratada de uma forma que respeita a dignidade pessoal. Até agora, não recebemos reações negativas", disse.

Jornalista detida no Irão há 10 dias. Roma fala em

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Cecilia Sala partiu de Itália para o Irão no dia 12 de dezembro com um visto de jornalista válido e a sua viagem de regresso a Roma estava prevista para 20 de dezembro, mas foi detida um dia antes.

Márcia Guímaro Rodrigues | 08:45 - 29/12/2024

Contudo, a imprensa italiana avançou que a cela onde a jornalista se encontrava tinha uma "iluminação neón" durante 24 horas por dia e que a jovem dormia no chão com uma manta por cima e outra por baixo do corpo.

A confirmação por parte do Irão só chegou a 30 de dezembro, quando o Departamento Geral de Comunicação Social Estrangeira do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica do Irão disse, em comunicado, que Cecilia Sala estava detida "por violar as leis da República Islâmica do Irão".

"A cidadã italiana chegou ao Irão em 13 de dezembro com um visto de jornalista e foi detida no dia 19 por violar a lei da República Islâmica do Irão", referiu a nota, sem especificar o delito cometido.

O organismo assegurou, contudo, que a detenção "foi feita de acordo com a lei aplicável".

Detenção complicou relação entre Roma e Teerão

A libertação de Cecilia Sala, cuja situação era seguida de perto em Itália, foi encarada como uma grande vitória para a diplomacia daquele país. Prova disso foi uma invulgar ovação de todas as bancadas no parlamento, tendo os partidos da oposição inclusivamente elogiado o trabalho diplomático do governo de Direita e extrema-direita de Meloni.

Antes, a 2 de janeiro, Itália convocou o embaixador iraniano em Roma, para exigir a "libertação imediata" da jornalista. No dia seguinte, como retaliação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano chamou a embaixadora de Itália em Teerão para protestar contra a detenção de Mohammad Abedini, que o Irão considerou ser "um ato ilegal solicitado pelo governo dos Estados Unidos, que se inscreve nas intenções hostis (...) desse país de tomar como reféns cidadãos iranianos".

Nesse momento, a chefe do Governo tinha já reafirmado o seu compromisso para com a libertação da jovem, na sequência de uma reunião com membros do seu Executivo e de ter recebido a mãe da repórter.

Em novembro de 2019, a jornalista de Roma integrou a equipa editorial do Il Foglio e, no ano seguinte, o seu podcast ‘Polvere’, que se focava no assassinato de Marta Russo, uma estudante de 22 anos da Faculdade de Direito da Universidade Sapienza de Roma que foi baleada e morta nas instalações da instituição de ensino, a 9 de maio de 1997, começou a ser emitido pelo Huffington Post.

A 10 de janeiro de 2022, Cecilia Sala tornou-se autora e voz de um novo podcast. ‘Stories’, que é publicado pela Chora Media, conta diariamente histórias de todo o mundo.

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