"Os militares continuam a apoiar [o Presidente venezuelano, Nicolás] Maduro e a oposição não tem armas, assim uma mudança de regime só poderia acontecer com muito apoio externo", declarou Andrés Malamud, professor e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL).
Segundo o investigador, o problema está no facto de os países que são relevantes para Venezuela ou apoiam Maduro - como a China, Rússia e Cuba - ou se mantém relativamente distantes da situação que o país atravessa, nomeadamente os Estados Unidos, o Brasil e a Colômbia.
"Não havendo nenhuma potência relevante que apoie materialmente o Presidente eleito [que considera ser o opositor Edmundo González Urrutia], não é possível esperar que este consiga retornar à Venezuela sem ser preso", afirmou o especialista.
A oposição convocou manifestações contra a posse de Maduro na sexta-feira e González Urrutia afirmou que voltará ao país após se ter exilado em Espanha, em setembro, devido a um pedido de prisão emitido por um juiz em seu nome na Venezuela.
O chefe de Estado venezuelano foi proclamado vencedor das presidências de 28 de julho pelo Conselho Nacional Eleitoral, que não tornou pública a contagem dos votos nas assembleias de voto, alegando ter sido vítima de pirataria informática.
A oposição, que publicou as atas -- que o Governo venezuelano diz ser falsas -- de 80% das assembleias de voto recolhidas pelos seus escrutinadores, defende que o candidato opositor Edmundo González Urrutia obteve mais de 67% dos votos e venceu..
O regime de Maduro "subestimou o desejo de mudança" e "a capacidade da oposição de se ligar à população", afirmou Carol Pedroso, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
A forte repressão das manifestações pós-eleitorais provocou 28 mortos, duas dezenas de feridos e cerca de 2.400 detenções.
A comunidade internacional exigiu a apresentação das atas eleitorais pelas autoridades venezuelanas, o que não aconteceu e levou o crescimento da tensão na comunidade internacional e cortes nas relações diplomáticas com algumas nações.
A prolongada crise económica, social e humanitária do país não tem fim à vista. Hoje em dia, o venezuelano médio tem de lidar com um salário mínimo mensal inferior a dois dólares, preços crescentes dos alimentos, fornecimento irregular de combustível e um sistema de ensino público deficiente.
Enquanto isso, um grupo de privilegiados ligados ao círculo de Maduro desfruta de regalias que a população em geral não tem direito, como o acesso a produtos alimentares e de higiene vindos do estrangeiro, entre outras coisas, como bons empregos e contratos.
Vários especialistas preveem que a crise poderá aumentar enquanto o Governo se continuar a debater com uma economia dependente do petróleo, com a corrupção, com a má gestão, com as sanções económicas impostas ao país, com o acesso restrito ao crédito e com a falta de investimento privado.
Antes das eleições, os eleitores venezuelanos disseram repetidamente que emigrariam se Maduro permanecesse no poder. Sob o seu Governo, mais de 7,7 milhões de venezuelanos já abandonaram a sua terra em busca de melhores condições de vida.
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