"Penso que posso excluir a hipótese de os Estados Unidos tentarem anexar à força territórios que lhes interessam nos próximos anos", declarou, na conferência de imprensa de Ano Novo, em Roma, a chefe de Governo italiana, cujos estreitos laços com o Presidente eleito Donald Trump colocam-na como interlocutora privilegiada da nova administração norte-americana na Europa.
Reportando-se às recentes declarações de Trump, que não excluiu o recurso à força para anexar a Gronelândia e o Canal do Panamá, por considerar que tal é "uma necessidade absoluta" para a segurança nacional dos EUA, Meloni comentou que, tal como já o demonstrou no anterior mandato, o Presidente eleito norte-americano, que tomará posse a 20 de janeiro, "é uma pessoa que, quando faz alguma coisa, fá-lo por uma razão".
"Penso que as suas declarações são uma mensagem para alguns grandes atores globais e não afirmações hostis em relação a estes países. O Canal do Panamá é fundamental para o mercado, a Gronelândia é rica em matérias-primas estratégicas, e estes são territórios que têm visto uma crescente proeminência chinesa nos últimos anos. Esta é uma forma vigorosa de dizer que os EUA não ficarão de braços cruzados face a quaisquer iniciativas de outros grandes atores", observou Meloni.
A chefe de governo e líder do partido pós-fascista Irmãos de Itália também abordou as recentes notícias que dão conta de negociações muito avançadas entre Roma e a empresa SpaceX, de Elon Musk, para a celebração de um contrato de fornecimento de telecomunicações seguras (uma gama completa de encriptação de alto nível para os serviços telefónicos e de internet) ao Estado italiano, no valor de 1,5 mil milhões de euros.
Os partidos da oposição acusam Meloni de pôr em risco a segurança nacional ao entregar a gestão da segurança das telecomunicações do Estado ao sistema de satélites Starlink de Musk, apontando também um potencial conflito em torno dos assumidos laços de amizade entre a primeira-ministra e o magnata norte-americano -- ambos encontraram-se por diversas vezes nos últimos meses, trocando rasgados elogios -, dado Elon Musk ter interesses económicos privados em Itália.
"Estou impressionada com a forma como as notícias falsas circulam e continuam a ser discutidas mesmo depois de terem sido desmentidas, como é o caso do contrato com a SpaceX", disse Meloni, recordando que o Governo já teve oportunidade de negar qualquer acordo assinado com a empresa de Musk, que Trump anunciou que nomeará para chefiar um novo departamento de "eficiência governamental".
"Utilizar a esfera pública para fazer favores a amigos não é um hábito meu. Tenho em conta o interesse nacional e nunca falei pessoalmente com Musk sobre este assunto", garantiu.
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