"Ontem [sábado] reuni com a comissão politica e tomou-se essa decisão. Esta tarde estive reunido com os deputados para os deputados para os informar", disse Lutero Simango, que foi também candidato presidencial, apoiado pelo MDM, nas eleições gerais de 09 de outubro, que o partido não reconhece.
"Sempre defendi que é preciso fazer uma auditoria forense, ou recontagem [dos votos], ou em última hipótese anular as eleições", afirmou Simango, garantindo: "Os deputados não vão tomar posse amanhã".
Também os deputados eleitos pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) não vão participar na tomada de posse, anunciou hoje o partido, pedindo aos moçambicanos para usarem "todos os meios pacíficos" para "repor" a verdade eleitoral.
"O partido Renamo entende que esta cerimónia está desprovida de qualquer valor solene e por isso constitui um ultraje social e desrespeito à vontade dos moçambicanos, pelo que não fará parte desta tomada de posse", afirmou o porta-voz do até agora maior partido da oposição, Marcial Macome, à margem da reunião da comissão política nacional, que está decorrer em Maputo.
Os 250 deputados eleitos à X Legislatura da Assembleia da República - 28 da Renamo, contra 60 atualmente - foram convocados para tomar posse esta segunda-feira, às 10:00 locais (08:00 em Lisboa), na sede do parlamento, em Maputo, numa cerimónia solene a ser dirigida pelo Presidente da República cessante, Filipe Nyusi.
"O partido Renamo entende que é preciso respeitar a vontade do povo e a vontade do povo passa necessariamente pela realização de eleições livres, justas e transparentes, e não eleições administrativas", acrescentou o porta-voz, recordando que o partido não reconhece os resultados anunciados pelo "acórdão administrativo" do Conselho Constitucional, insistindo na anulação e repetição do processo eleitoral, marcado desde outubro por tensões sociais, manifestações e paralisações que já provocaram quase 300 mortos e mais de 600 baleados.
Da agenda da convocatória de sessão solene de segunda-feira, além da investidura dos deputados, consta a eleição do presidente da Assembleia da República para a nova legislatura, cargo atualmente ocupado por Esperança Bias.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou no sábado a três dias de paralisação em Moçambique a partir de segunda-feira e "manifestações pacíficas" durante a posse dos deputados ao parlamento e do novo Presidente moçambicano, contestando o processo eleitoral.
"Chegou a hora de vocês demonstrarem a vossa própria iniciativa", afirmou, numa intervenção em direto, ao início da noite, a partir da sua conta oficial na rede social Facebook, aludindo às cerimónias de posse agendadas para segunda-feira, dos 250 deputados, e para quarta-feira, do Presidente da República, Daniel Chapo.
"Estes três dias são cruciais para a nossa vida. Temos que demonstrar que o povo é que manda. Manifestações pacíficas. Das 08:00 às 17:00 [menos duas horas em Lisboa] é suficiente, contra os traidores do povo na segunda-feira e contra os ladrões do povo na quarta-feira", afirmou.
Venâncio Mondlane regressou a Moçambique na quinta-feira, após dois meses e meio no exterior, alegando questões de segurança, e insiste em não reconhecer os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, em que a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975) elegeu o seu candidato a Presidente da República, Daniel Chapo, manteve a maioria dos deputados na Assembleia da República e garantiu todos os governadores de província.
A Frelimo venceu as eleições para o parlamento moçambicano com maioria absoluta, garantindo 171 deputados, com o estreante Podemos a eleger 43, destronando a Renamo na liderança da oposição, de acordo com a proclamação dos resultados, em 23 de dezembro, pela presidente do Conselho Constitucional (CC), Lúcia Ribeiro.
A Frelimo mantém-se com uma maioria parlamentar na décima legislatura, com 171 deputados (184 atualmente), a qual passa a ter quatro partidos representados, contra os atuais três, incluindo 28 da Renamo e oito (mais dois) do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
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