Numa breve declaração à imprensa, na sede da ONU em Nova Iorque, Guterres indicou que a prioridade a partir de agora deve ser "aliviar o tremendo sofrimento causado por este conflito".
"As Nações Unidas estão prontas para apoiar a implementação deste acordo e aumentar a entrega de ajuda humanitária sustentada aos inúmeros palestinianos que continuam a sofrer", afirmou.
Guterres, um acérrimo defensor do fim deste conflito, elogiou também os mediadores do acordo --- Egito, Catar e Estados Unidos da América --- pelos seus esforços dedicados na intermediação do mesmo, enaltecendo que o "compromisso inabalável" desses países em encontrar uma solução diplomática foi fundamental para alcançar este avanço hoje registado.
"Peço a todas as partes relevantes que cumpram os seus compromissos e garantam que este acordo seja totalmente implementado", pediu o ex-primeiro-ministro português.
Desde o início da violência, "pedi um cessar-fogo imediato e a libertação imediata e incondicional de todos os reféns", recordou Guterres, frisando ser agora "imperativo" que este cessar-fogo remova os obstáculos políticos e de segurança para a entrega de ajuda humanitária em Gaza.
"A situação humanitária está em níveis catastróficos. Peço a todas as partes que facilitem a ajuda humanitária rápida, desimpedida e segura para todos os civis necessitados", reforçou.
O líder da ONU considerou ainda este acordo como "um primeiro passo crítico", mas defendeu a necessidade de se mobilizarem todos os esforços para também avançar em "objetivos mais amplos, incluindo a preservação da unidade, contiguidade e integridade do Território Palestiniano Ocupado".
"A unidade palestiniana é essencial para alcançar paz e estabilidade duradouras, e enfatizo que a governação palestiniana unificada deve permanecer uma prioridade máxima. (...) Acabar com a ocupação e alcançar uma solução negociada de dois Estados, com Israel e Palestina a viver lado a lado em paz e segurança (...) continua a ser uma prioridade urgente", frisou.
Guterres concluiu a sua declaração com uma homenagem aos civis que perderam as suas vidas nesta guerra, incluindo pessoal da ONU e trabalhadores humanitários.
O ataque sem precedentes do Hamas a Israel em 07 de outubro, assim como a implacável resposta das forças israelitas na Faixa de Gaza, colocaram os olhares internacionais não só na ONU, como também no seu secretário-geral, António Guterres, que transmitiu inúmeros apelos a um cessar-fogo urgente e imediato, mas também alertas de catástrofe humanitária.
Contudo, esses apelos não só foram amplamente ignorados pelas partes em conflito durante longos meses, como valeram duras críticas a Guterres e à própria ONU por parte de Israel, que acusa o ex-primeiro-ministro português e a organização multilateral de "parcialidade".
A já tensa relação entre Israel e a ONU atingiu um novo patamar quando Guterres, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança, em 24 de outubro de 2023, admitiu que os ataques do Hamas "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".
Essas declarações levaram Israel a pedir a demissão "imediata" de Guterres da liderança da ONU.
Após o anúncio do cessar-fogo, também o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou hoje "grande alívio após 15 meses de dor e miséria insuportáveis" e defendeu que o acordo seja aplicado imediatamente.
"Apelo às partes no conflito e a todos os países com influência para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para garantir o sucesso das novas fases do cessar-fogo, incluindo a libertação de todos os reféns e o fim completo da guerra", instou Turk num comunicado a partir de Beirute, capital do Líbano, para onde também Guterres viajará na quinta-feira.
"Os meus pensamentos estão agora com aqueles que sofreram tanto nos últimos 15 meses e espero, para o bem de todos, que ninguém tenha de passar por isto novamente", acrescentou o chefe de Direitos Humanos das Nações Unidas.
[Notícia atualizada às 21h34]
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