Porque está Israel a lançar uma ofensiva na Cisjordânia após cessar-fogo em Gaza?

Nos dias que se seguiram ao frágil cessar-fogo na Faixa de Gaza, em vigor desde domingo, Israel lançou uma operação militar de grande envergadura na Cisjordânia ocupada e alegados colonos judeus invadiram duas localidades palestinianas.

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© Issam Rimawi/Anadolu via Getty Images

Lusa
22/01/2025 15:50 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Médio Oriente

A vaga de violência surge no momento em que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enfrenta a pressão interna dos seus aliados de extrema-direita, depois de ter concordado com a trégua e a troca de reféns com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que controla Gaza desde 2007.

 

Entretanto, o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anulou as sanções impostas pela administração anterior de Joe Biden contra os colonos israelitas acusados de violência na Cisjordânia.

Trata-se de uma mistura volátil que pode comprometer o cessar-fogo em Gaza, que deverá durar pelo menos seis semanas e permitir a libertação de dezenas de reféns em troca de centenas de prisioneiros palestinianos, a maioria dos quais será libertada na Cisjordânia.

Israel conquistou a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental na guerra do Médio Oriente de 1967, e os palestinianos querem os três territórios para o seu futuro Estado.

As escaladas nesta área são frequentes e intensas, o que aumenta as preocupações de que a segunda e muito mais difícil fase do cessar-fogo em Gaza (divido em três fases) - que ainda tem de ser negociada - possa nunca chegar.

Eis um resumo de alguns dos pontos a ter em conta sobre a atual situação na Cisjordânia:

Um tumulto e um ataque militar

Dezenas de homens mascarados percorreram na segunda-feira duas aldeias palestinianas no norte da Cisjordânia, atirando pedras e incendiando carros e propriedades, segundo as autoridades palestinianas locais. 

O serviço de emergência do Crescente Vermelho informou que 12 pessoas foram agredidas e feridas.

Entretanto, as forças israelitas efetuaram uma rusga noutro local da Cisjordânia que, segundo os militares, surgiu em resposta ao lançamento de bombas incendiárias contra veículos israelitas. 

Segundo os militares, vários suspeitos foram detidos para interrogatório e um vídeo que circula na Internet parece mostrar dezenas de pessoas a serem levadas em marcha pelas ruas.

Na terça-feira, as forças armadas israelitas lançaram outra grande operação, desta vez na cidade de Jenin, no norte da Cisjordânia, onde nos últimos anos as suas forças têm entrado regularmente em confronto com militantes palestinianos, mesmo antes do ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023, a partir da Faixa de Gaza, que desencadeou a guerra na região.

Pelo menos nove palestinianos foram mortos na terça-feira, incluindo um jovem de 16 anos, e 40 ficaram feridos, informou o Ministério da Saúde palestiniano. 

Os militares disseram que as suas forças efetuaram ataques aéreos e desativaram bombas à beira da estrada e "atingiram" 10 militantes - embora as informações transmitidas não tenham sido claras sobre o âmbito das manobras.

Os residentes palestinianos referiram um aumento significativo dos postos de controlo israelitas e dos atrasos em todo o território.

Entretanto, Israel afirma que as ameaças contra os seus cidadãos a partir da Cisjordânia estão a aumentar. 

No início deste mês, homens armados palestinianos abriram fogo contra automobilistas, matando três israelitas, incluindo duas mulheres na casa dos 70 anos.

Este ataque alimentou os apelos dos líderes dos colonos para uma repressão no território.

O Ministro da Defesa israelita, Israel Katz, considerou a operação de Jenin como parte de uma luta mais vasta de Israel contra o Irão e os seus aliados em toda a região, afirmando que atacará "os braços do polvo até que se partam".

Os palestinianos veem estas operações e a expansão dos colonatos como formas de cimentar o controlo israelita sobre o território, onde três milhões de residentes vivem sob o domínio militar israelita, aparentemente sem fim, com a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), apoiada pelo Ocidente, a administrar cidades e vilas.

Grupos proeminentes de defesa dos direitos humanos consideram que se trata de uma forma de 'apartheid' (regime de segregação), uma vez que os mais de meio milhão de colonos judeus que vivem no território têm todos os direitos conferidos pela cidadania israelita. Israel rejeita estas alegações.

Os parceiros de extrema-direita de Netanyahu estão revoltados

Netanyahu tem-se esforçado por reprimir a rebelião dos seus parceiros de coligação ultranacionalistas desde que concordou com o cessar-fogo. O acordo exige que as forças israelitas se retirem da maior parte da Faixa de Gaza e libertem centenas de prisioneiros palestinianos - incluindo militantes condenados por homicídio - em troca dos reféns raptados no ataque de 07 de outubro de 2023.

Um dos parceiros da coligação governamental, Itamar Ben-Gvir, demitiu-se em protesto no dia em que o cessar-fogo entrou em vigor. Outro, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, ameaçou abandonar a coligação se Israel não retomar a guerra após a primeira fase do cessar-fogo, prevista para o início de março.

Ambos querem que Israel anexe a Cisjordânia e reconstrua os colonatos em Gaza, encorajando simultaneamente aquilo a que chamam a migração voluntária de um grande número de palestinianos.

Netanyahu ainda dispõe de uma maioria parlamentar após a saída de Ben-Gvir, mas a perda de Smotrich - que é também o governador de facto da Cisjordânia - enfraqueceria gravemente a coligação e conduziria provavelmente a eleições antecipadas.

Isso poderia significar o fim dos 16 anos quase ininterruptos de Netanyahu no poder, deixando-o ainda mais exposto a acusações de corrupção de longa data e a um esperado inquérito público sobre a incapacidade de Israel de evitar o ataque de 07 de outubro.

O regresso de Trump pode dar mais liberdade aos colonos

O regresso de Trump à Casa Branca (presidência norte-americana) oferece a Netanyahu uma potencial tábua de salvação. O recém-empossado Presidente, que deu um apoio sem precedentes a Israel durante o seu anterior mandato (2017-2021), rodeou-se de colaboradores que apoiam os colonatos israelitas. 

Alguns apoiam a reivindicação dos colonos de um direito bíblico à Cisjordânia, devido aos reinos judeus que aí existiram na antiguidade. A comunidade internacional considera, na sua esmagadora maioria, os colonatos ilegais.

Entre a enxurrada de ordens executivas que Trump assinou no seu primeiro dia de regresso ao cargo, encontra-se uma que revoga as sanções impostas pela administração Biden aos colonos e aos extremistas judeus acusados de violência contra os palestinianos.

As sanções - que tiveram pouco efeito - foram um dos poucos passos concretos que a administração Biden deu em oposição ao aliado próximo dos Estados Unidos, mesmo quando forneceu milhares de milhões de dólares em apoio militar à campanha de Israel em Gaza, uma das mais mortíferas e destrutivas em décadas.

Trump reivindicou o crédito por ter ajudado a fazer com que o acordo de cessar-fogo em Gaza ultrapassasse a linha de chegada nos últimos dias da presidência de Biden.

Mas esta semana, Trump disse que "não estava confiante" de que o acordo se manteria e deu a entender que daria a Israel 'carta-branca' em Gaza, dizendo: "Não é a nossa guerra, é a guerra deles".

Leia Também: Médio Oriente. Autarca de Jenin acusa israelitas de forçar deslocações

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