"Realisticamente, a Europa não tem grande escolha senão aceitar o que quer que os Estados Unidos acabem por fazer, dentro dos limites de um acordo razoavelmente aceitável, se não for perfeito", afirmou a diretora do centro de estudos British Foreign Policy Group, Evie Aspinall.
Segundo esta especialista em relações internacionais, "a Europa tem provavelmente de aceitar a situação, em parte porque não pode suportar o esforço de guerra sem os Estados Unidos" e porque precisa do apoio dos EUA para o processo de reconstrução da Ucrânia a longo prazo.
Aspinall falava durante um 'webinar' com vários analistas sobre o tema "Trump e a política externa: um admirável mundo novo?", organizado pelo centro de estudos UK in a Changing Europe.
"No final, cabe à Ucrânia decidir se continua a lutar ou não. Ninguém os pode obrigar, e existe um debate [interno] na Ucrânia sobre qual deverá ser o futuro do seu esforço de guerra", vincou Sophia Besch, investigadora no Carnegie Endowment for International Peace.
Para esta analista, "nunca se tratou apenas de uma questão de território", mas do poder de Kiev "ser livre de decidir o seu próprio futuro. E é aqui que entra a Europa".
"Se a Ucrânia quiser que o seu futuro seja, por exemplo, na União Europeia, então há algo que a Europa pode fazer nesse domínio. Nesta altura, a Europa não está unida, especialmente se o alargamento à Ucrânia vier a ser feito sem as garantias de segurança dos EUA", argumentou.
Besch avisa que, apesar de os países europeus terem vindo a aumentar o investimento em segurança e meios militares, ainda dependem dos Estados Unidos para a sua política externa e de defesa.
"Neste momento, e a Europa está distraída, a Europa está a olhar para dentro - em França, na Alemanha, temos eleições à porta - não é, de facto, uma situação ideal para (...) assumir o lugar dos EUA", referiu.
Sobre o prazo para um acordo, que Trump prometeu finalizar num dia para depois alargar para 100 dias e, mais recentemente, seis meses, Besch afirma que "faz sentido" porque, ao contrário do acordo para a guerra em Gaza, não existe um esboço para o fim do conflito na Ucrânia.
Leslie Vinjamuri, diretora do programa sobre os EUA e Américas do centro de estudos Chatham House, considera ser "evidente que [Trump] quer que esta guerra acabe" nos termos que ele decidir.
"Ao contrário da administração Biden, não vai ser que a Ucrânia quer, vai ser que a América decidiu, o que a América quer, e o que precisamos de fazer para o alcançar", avisou.
A curto prazo, especulou, fala-se que os EUA poderão tentar forçar o Presidente russo, Vladimir Putin, a abrir negociações, impondo sanções mais duras contra a Rússia e dando mais ajuda à Ucrânia.
Vinjamuri considera que a potencial cedência de território ucraniano é quase inevitável, mas que existem outras contrapartidas por determinar.
"A questão territorial é, ironicamente, talvez a mais fácil, mas as garantias de segurança para assegurar que não se trata apenas de uma paz temporária são muito incertas", disse.
A adesão à NATO "é evidente que estaria fora de questão", mas Vinjamuri admite a possibilidade de "algum tipo de proteção mais alargada para a soberania ucraniana e para que esta faça as suas próprias escolhas quanto à sua inclinação para o Ocidente".
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