Os combates entre o exército congolês e o grupo armado antigovernamental M23, apoiado pelo Ruanda e que avançou nos últimos dias, intensificaram-se e ocorrem agora a cerca de vinte quilómetros da capital regional Goma, que tem um milhão de habitantes e pelo menos o mesmo número de deslocados.
"As Forças Armadas Sul-Africanas (SANDF) perderam nove membros na sexta-feira, após dois dias de combates ferozes", afirmou o exército sul-africano num comunicado, acrescentando que o número de feridos ainda está por confirmar.
Sete deles faziam parte da força regional destacada pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e dois eram da Monusco, a força das Nações Unidas também enviada para apoiar o exército congolês, precisou.
No início do dia, um primeiro relatório divulgado por fontes sul-africanas dava conta de três mortos e 18 feridos nos combates.
Após estes dois dias de combate, "o contingente sul-africano e os seus homólogos conseguiram travar o avanço do grupo rebelde em direção a Goma", afirmou o exército sul-africano, no mesmo comunicado.
Três soldados do Malawi da força da SADC também foram mortos "no exercício da sua missão durante um encontro com o grupo rebelde M23 que opera no leste da RDC", indicou à AFP um porta-voz do exército do Malawi, Emmanuel Mlelemba, sem mais detalhes.
Em Montevidéu, o exército uruguaio também anunciou hoje a morte de um de seus soldados destacados na MONUSCO durante combates com o M23, no leste do país.
"Nas últimas 24 horas, registámos uma deterioração da situação de segurança na província de Kivu do Norte [...]. Infelizmente, um soldado perdeu a vida", disse a mesma fonte, acrescentando que quatro soldados uruguaios também ficaram feridos.
Não está claro se os soldados sul-africanos, malawianos e uruguaios foram mortos no mesmo incidente. Os responsáveis da SADC escusaram-se a comentar as mortes.
"As forças hostis do M23 lançaram um ataque em grande escala contra as nossas tropas com a intenção de tomar Goma, mas não conseguiram avançar devido à heróica resistência apresentada pelos nossos valentes combatentes [...]. As nossas forças não só foram capazes de impedir o avanço do M23, mas também empurrá-lo para trás", assegurou o exército sul-africano.
A força regional da SADC, a SAMIDRC, destacada na região no final de 2023, inclui nomeadamente 2.900 soldados sul-africanos, bem como soldados do Malawi e da Tanzânia. A Monusco, por sua vez, possui 15.000 'capacetes azuis'.
O conflito, que já dura mais de três anos, também continua a agravar a crise humanitária na região.
Hoje, a União Africana e a União Europeia apelaram à cessação das hostilidades.
Os combates intensificaram-se nas últimas semanas após a suspensão da cimeira de paz prevista para 15 de dezembro em Angola, que deveria contar com a presença dos presidentes congolês e ruandês, Félix Tshisekedi e Paul Kagamé, respetivamente.
Embora as autoridades ruandesas neguem a alegada colaboração de Kigali com o M23, este facto foi confirmado pelas Nações Unidas, tendo o próprio Kagamé manifestado publicamente o apoio aos rebeldes.
Por sua vez, o Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de colaborar com os rebeldes das FDLR, fundado em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e por outros ruandeses exilados na RDCongo para recuperar o poder político no país, colaboração também confirmada pela ONU.
Entretanto, a República Democrática do Congo anunciou hoje ter retirado os seus diplomatas da capital ruandesa, "com efeito imediato".
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