A intenção surge numa altura em que são vários os apelos da Autoridade Palestiniana (AP) para colocar o enclave sob sua administração.
Mussa Abou Marzouk, um alto funcionário do grupo islamita, disse à televisão al-Arabiya que o Hamas não pretende manter o controlo do enclave e afirmou que "qualquer administração de Gaza deve basear-se num consenso regional".
Abou Marzouk recordou que o grupo deu o seu apoio à comissão acordada com a Fatah, que lidera o Governo na Cisjordânia, para a criação de um comité conjunto para gerir os assuntos na Faixa de Gaza.
Segundo aquele dirigente do Hamas, a Faixa de Gaza ficaria sob a autoridade de um governo palestiniano, chefiado por Mohamed Mustafa, que é também o ministro palestiniano dos Negócios Estrangeiros da AP.
Abou Marzouk sublinhou, no entanto, que é a Fatah que "rejeita" este comité e acrescentou que "Israel não conseguiu encontrar uma alternativa à gestão da Faixa pelo Hamas", sublinhando que o grupo islamita "está aberto a todas as propostas sobre o futuro da administração" do enclave.
Por outro lado, o dirigente do Hamas reforçou a rejeição do movimento à ideia avançada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que disse que vai abordar com o Egito e a Jordânia a possibilidade de os dois países receberem 1,5 milhões de deslocados de Gaza para "alojamento" a médio ou longo prazo.
"Nenhum palestiniano ou árabe aceitará a ideia de deslocação", pelo menos enquanto durar a reconstrução do enclave, um cenário que os dois países já rejeitaram, lembrou.
"Esta ideia de deslocação é uma limpeza étnica da população de Gaza", frisou, aludindo à idêntica posição da Liga Árabe, ao mesmo tempo que afirmou que o grupo "está aberto ao diálogo com os Estados Unidos" e sublinhou que o acordo de cessar-fogo "não teria tido lugar" sem os esforços do enviado de Trump.
"A posição da liderança do Hamas é de abertura ao diálogo com todas as partes, exceto Israel", disse Abou Marzouk, que reiterou o apoio do grupo à criação de um Estado palestiniano unificado na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, em linha com a solução de dois Estados apoiada internacionalmente.
O dirigente do Hamas referiu ainda que os ataques de 07 de outubro de 2023, que mataram cerca de 1.200 pessoas e permitiu o sequestro de outras 250, o que levaram Israel a lançar a ofensiva contra Gaza, atingiram "alguns dos objetivos", embora "outros não tenham sido alcançados".
"O objetivo de obter um Estado palestiniano não foi alcançado, nem o objetivo de parar a expansão dos colonatos", lamentou, sem especificar quais foram os alcançados e depois de reconhecer que os palestinianos sofreram "enormes perdas" devido à ofensiva.
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