"A Europa encontra-se numa situação grave. Com guerra no continente e alterações na realidade geopolítica. Em alturas como esta, a unidade é fundamental", afirmou a primeira-ministra da Dinamarca, citada num comunicado que não faz qualquer referência à Gronelândia.
Frederiksen reunir-se-á com o chanceler alemão, Olaf Scholz, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e Mark Rutte, o secretário-geral da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).
"A Dinamarca é um país pequeno com alianças fortes. E faz parte de uma comunidade europeia forte, onde podemos enfrentar juntos os desafios que se nos apresentarem", acrescentou.
No sábado, o Presidente dos Estados Unidos declarou à imprensa que "obteria" a Gronelândia, repetindo mais uma vez as suas ideias de anexação daquela região autónoma setentrional.
Em meados de janeiro, Frederiksen falou com Trump por telefone, sublinhando que cabia à Gronelândia decidir o seu próprio futuro (uma vez que dispõe, desde 2009, de um novo estatuto que reconhece o seu direito à autodeterminação).
Segundo várias fontes inquiridas pelo diário Financial Times, essa conversa, descrita pelos dinamarqueses como "longa e franca", terá sido "horrível".
A maioria dos partidos e a população da Gronelândia defendem a separação da Dinamarca, mas metade do orçamento da ilha depende da ajuda anual de Copenhaga e as tentativas de obter receitas das suas riquezas minerais e petrolíferas falharam até agora devido às dificuldades e aos elevados custos da respetiva extração.
Tratando-se de um território autónomo, cujas política externa e de segurança, justiça e moeda dependem da Dinamarca, a Gronelândia já respondeu várias vezes a Trump, afirmando que não está à venda.
A chefe do executivo dinamarquês forneceu uma primeira demonstração de unidade ao receber, no domingo à noite, para jantar, os homólogos escandinavos, declarando que "os países nórdicos sempre foram solidários".
Hoje, o Governo dinamarquês anunciou que destinará 15 mil milhões de coroas (cerca de 2 mil milhões de euros) para a compra de três novos navios e dois 'drones' (aeronaves não-tripuladas) de longo alcance e reforçar a capacidade dos seus satélites, para melhorar a defesa do Ártico.
A iniciativa resulta de um acordo entre o Governo e vários partidos da oposição e surge no meio da polémica causada pelas declarações de Trump, sobre o seu interesse de se apoderar da Gronelândia, de uma forma ou de outra.
Trump, que não excluiu a hipótese de adotar medidas de força ou de impor sanções económicas a Copenhaga se esta não lhe vender o território, criticou diversas vezes a defesa da ilha ártica, que considera insuficiente.
"Com os três novos navios, teremos uma melhor cobertura do Ártico e do Atlântico-Norte", disse o ministro da Defesa dinamarquês, Troels Lund Poulsen, numa conferência de imprensa, sublinhando que este é o primeiro de vários acordos de defesa para a região que serão apresentados este ano.
Os três novos navios substituirão quatro com mais de 40 anos e que apresentam problemas operacionais.
O acordo inclui também a elaboração de um novo plano para a Marinha dinamarquesa no Ártico, em março.
"Para mim, tem sido uma prioridade garantir a aquisição de novos navios para o Ártico, pois sei o papel importante que desempenham nas tarefas militares e civis do Comando do Ártico", afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Gronelândia, Vivian Motzfeldt, que falou de um "dia histórico".
Na terça-feira de manhã, após o seu encontro em Berlim com Scholz, às 08:15 locais (07:15 de Lisboa), a dirigente dinamarquesa avistar-se-á com Macron às 11:30 em Paris (10:30 de Lisboa).
Frederiksen e Macron vão analisar os meios para "reforçar uma União Europeia unida, forte e soberana", indicou hoje à noite o Palácio do Eliseu, também sem referir a Gronelândia no seu comunicado.
Os responsáveis debaterão igualmente "questões de segurança e de defesa europeias", tendo em vista a reunião informal dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), a 03 de fevereiro, com especial destaque para o "reforço da base tecnológica e industrial de defesa europeia", acrescentou.
O Eliseu indicou ainda que Frederiksen e Macron falarão da guerra na Ucrânia e da presidência dinamarquesa do Conselho da UE, no segundo semestre de 2025.
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