A ofensiva de Israel na Cisjordânia após cessar-fogo em Gaza

Israel lançou, há precisamente uma semana, uma grande operação militar na Cisjordânia ocupada e supostos colonos judeus invadiram duas cidades palestinianas, quando se esperava uma acalmia após o frágil cessar-fogo na Faixa de Gaza.

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© YOUSSEF ALZANOUN/Middle East Images/AFP via Getty Images

Lusa
29/01/2025 14:31 ‧ ontem por Lusa

Mundo

Pontos Essenciais

A violência ocorre no momento em que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enfrenta a pressão interna dos seus aliados de extrema-direita por ter concordado com a trégua e a troca de reféns com o grupo militante palestiniano Hamas, sublinhou Joseph Krauss, analista de assuntos internacionais ouvido pela agência noticiosa Associated Press (AP). 

 

Com o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a anular as sanções impostas pela administração anterior de Joe Biden -contra os israelitas acusados de violência no território, ficou criada, refere Krauss, uma mistura volátil que pode comprometer o cessar-fogo, que deverá durar pelo menos seis semanas e permitir a libertação de dezenas de reféns em troca de centenas de prisioneiros palestinianos, a maioria dos quais será libertada na Cisjordânia.

Eis alguns pontos essenciais sobre a situação na Cisjordânia, conquistada por Israel na "guerra dos seis dias" de 1967 juntamente com Gaza e Jerusalém Leste, três territórios que os palestinianos querem para o seu futuro Estado.

A violência de volta

A escalada numa área transborda frequentemente, aumentando as preocupações de que a segunda e muito mais difícil fase do cessar-fogo em Gaza - que ainda tem de ser negociada - possa nunca chegar.

Há uma semana, dezenas de homens mascarados percorreram duas aldeias palestinianas no norte da Cisjordânia, atirando pedras e incendiando carros e propriedades, segundo as autoridades palestinianas locais. O serviço de emergência do Crescente Vermelho informou que 12 pessoas foram agredidas e feridas.

Entretanto, as forças israelitas efetuaram uma rusga noutro local da Cisjordânia, segundo os militares em resposta ao lançamento de bombas incendiárias contra veículos israelitas. Segundo os militares, vários suspeitos foram detidos para interrogatório.

A 23 de fevereiro, as forças armadas israelitas lançaram outra grande operação, desta vez na cidade de Jenin, no norte da Cisjordânia, onde o exército tem entrado regularmente em confronto com militantes palestinianos nos últimos anos, mesmo antes do ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023 a partir da Faixa de Gaza, que desencadeou a guerra na região.

Pelo menos nove palestinianos foram mortos nesse dia, incluindo um jovem de 16 anos, e 40 ficaram feridos, informou o Ministério da Saúde palestiniano. Os militares afirmaram que as suas forças efetuaram ataques aéreos, desmantelaram bombas à beira da estrada e "atingiram" 10 militantes - embora não tenha sido claro o que isso significava.

Os residentes palestinianos referiram um aumento significativo dos postos de controlo israelitas em todo o território.

Israel alega que ameaças na Cisjordânia estão a aumentar

No início deste mês, homens armados palestinianos abriram fogo contra automobilistas, matando três israelitas, incluindo duas mulheres na casa dos 70 anos. Esse ataque alimentou os apelos dos líderes dos colonos para uma repressão no território.

O Ministro da Defesa israelita, Israel Katz, considerou a operação de Jenin como parte de uma luta mais vasta de Israel contra o Irão e os seus aliados militantes em toda a região: "atacaremos os braços do polvo até que se se desfaçam", afirmou.

Segundo Krauss, os palestinianos veem estas operações e a expansão dos colonatos como formas de cimentar o controlo israelita sobre o território, onde cerca de três milhões de palestinianos vivem sob o domínio militar israelita, aparentemente sem fim, com a Autoridade Palestiniana, apoiada pelo Ocidente, a administrar cidades e vilas.

Grupos proeminentes de defesa dos direitos humanos consideram que se trata de uma forma de 'apartheid', uma vez que os mais de 500 mil colonos judeus que vivem no território têm todos os direitos conferidos pela cidadania israelita. Israel rejeita estas alegações.

Os parceiros de extrema-direita de Netanyahu estão revoltados

Desde que aceitou o cessar-fogo, Netanyahu tem-se esforçado por reprimir a rebelião dos seus parceiros de coligação ultranacionalistas. O acordo exige que as forças israelitas se retirem da maior parte da Faixa de Gaza e libertem centenas de prisioneiros palestinianos - incluindo militantes condenados por homicídio - em troca dos reféns raptados no ataque de 07 de outubro.

Um dos parceiros da coligação, Itamar Ben-Gvir, demitiu-se em protesto no dia em que o cessar-fogo entrou em vigor. Outro, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, ameaçou abandonar a coligação se Israel não retomar a guerra após a primeira fase do cessar-fogo, prevista para o início de março.

Querem que Israel anexe a Cisjordânia e reconstrua os colonatos em Gaza, encorajando aquilo a que chamam a migração voluntária de um grande número de palestinianos.

Para o analista, Netanyahu ainda dispõe de uma maioria parlamentar após a saída de Ben-Gvir, mas a perda de Smotrich - que é também o governador de facto da Cisjordânia - enfraqueceria gravemente a coligação e conduziria provavelmente a eleições antecipadas.

Isso poderia significar o fim dos quase ininterruptos 16 anos de Netanyahu no poder, deixando-o ainda mais exposto a acusações de corrupção de longa data e a um esperado inquérito público sobre a incapacidade de Israel de evitar o ataque de 07 de outubro.

O regresso de Trump poderá dar mais liberdade aos colonos

O regresso de Trump à Casa Branca oferece a Netanyahu uma potencial tábua de salvação. O recém-empossado Presidente, que deu um apoio sem precedentes a Israel durante o seu anterior mandato, rodeou-se de conselheiros que apoiam os colonatos israelitas. 

Alguns apoiam a reivindicação dos colonos de um direito bíblico à Cisjordânia, devido aos reinos judeus que aí existiram na antiguidade. A comunidade internacional considera, na sua esmagadora maioria, ilegais os colonatos.

Entre a enxurrada de ordens executivas que Trump assinou no seu primeiro dia de regresso ao cargo, lembra Krauss, encontra-se uma que revoga as sanções impostas pela administração Biden aos colonos e aos extremistas judeus acusados de violência contra os palestinianos.

As sanções - que tiveram pouco efeito - foram um dos poucos passos concretos que a administração Biden deu em oposição ao aliado próximo dos EUA, mesmo quando forneceu milhares de milhões de dólares em apoio militar à campanha de Israel em Gaza, uma das mais mortíferas e destrutivas em décadas.

Trump reivindicou o crédito por ter ajudado a fazer com que o acordo de cessar-fogo em Gaza ultrapassasse a linha de chegada nos últimos dias da presidência de Biden. Mas Trump já disse não estar confiante de que o acordo se manteria e deu a entender que daria a Israel 'carta branca' em Gaza, dizendo: "Não é a nossa guerra, é a guerra deles".

Leia Também: Israel nega atrasos nas entregas de ajuda humanitária em Gaza

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