Os dois grupos palestinianos aliados, em guerra com Israel desde 07 de outubro de 2023, promoveram a terceira série de libertação de reféns no âmbito do acordo de tréguas na Faixa de Gaza competindo em símbolos, segundo a agência francesa AFP.
No campo de refugiados de Jabalia, os combatentes usavam as faixas verdes do Hamas e do seu braço armado, as Brigadas Ezzedine Al-Qassam, num cenário de devastação e destroços.
Em Khan Yunis, os atiradores encapuzados estavam vestidos de preto da cabeça aos pés: eram os combatentes das Brigadas Al-Quds, o braço armado da Jihad Islâmica.
Entre os edifícios destruídos, estendiam-se cordões de bandeiras palestinianas, num ambiente festivo num campo de ruínas.
Em ambos os locais, estavam estacionadas as viaturas do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para receber os reféns.
A primeira libertação teve lugar no norte.
O Hamas montou um pódio, os delegados do CICV assinaram um formulário de libertação e, em seguida, a soldado israelita Agam Berger, vestida de caqui, emergiu dos escombros, escoltada por combatentes do movimento islamita.
A coreografia pretende ser uma prova de triunfo e uma demonstração de que o Hamas não está morto, contrariando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, segundo a AFP.
Com a cara fechada, a mulher de 20 anos parecia concentrada, como se tudo pudesse correr mal no último minuto, mas acabou por surgir uma ponta de um sorriso contido.
Trazia consigo o já tradicional saco de papel, uma "lembrança" dos raptores, que se vê sempre que um refém é libertado.
No pódio, foi filmada em grande plano por um combatente do Hamas com uma câmara profissional ao ombro. Ele ordenou-lhe que acenasse para a multidão, e ela obedeceu sem entusiasmo.
Depois, entrou numa das quatro viaturas do CICV, enquanto alguns homens se apressavam a imortalizar o momento nos telemóveis.
"Graças a Deus, é um acordo honroso e tenho pena que [Yahya] Sinwar não esteja aqui para ver a alegria", disse à AFP Umm Muhammad Ahmad, do campo de Jabalia, referindo-se ao antigo chefe do Hamas em Gaza.
Considerado o arquiteto do atentado de 07 de outubro de 2023, Sinwar foi morto um ano mais tarde por soldados israelitas.
A caminho do sul, uma fila de carros brancos passou muito lentamente por uma multidão compacta, reunida numa paisagem desolada de montes de areia, recentemente revolvidos por 'bulldozers' do exército israelita.
Os espetadores subiram a muros frágeis para verem melhor a cena. Cerca de vinte pessoas juntaram-se no que terá sido um piso, mas que agora se inclina perigosamente.
De manhã, a Jihad Islâmica transmitiu um vídeo em que Gadi Moses, um israelo-alemão de 80 anos, e Arbel Yehud, uma israelita de 29 anos, se abraçavam.
O comboio parou em Khan Yunis e começou uma espera interminável. Em redor dos carros, o caos reinava e o cenário não parecia estar a correr como planeado.
Arbel Yehud apareceu finalmente, em lágrimas, escoltada pelos captores no meio de uma multidão compacta, com o rosto tenso e angustiado.
Quanto ao octogenário, não se via em lado nenhum, mas pelas 13:30 locais (11:30 em Lisboa) um comunicado de Israel confirmou a libertação de sete reféns, entre os quais três israelitas e cinco tailandeses.
A agência norte-americana AP noticiou que a libertação foi atrasada por uma cena caótica em que uma multidão de palestinianos cercou e gozou com os reféns quando estes foram entregues ao CICV.
O primeiro-ministro israelita denunciou pouco depois as imagens vindas de Khan Yunis.
"Assisto com horror às cenas chocantes que rodeiam a libertação dos nossos reféns. Esta é mais uma prova da crueldade inimaginável da organização terrorista Hamas", afirmou Netanyahu num comunicado citado pela AFP.
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