Segundo o relatório anual do Centro de Informação, Cooperação e Sensibilização Marítima (MICA Center), com sede na Marinha francesa em Brest (noroeste de França), no total foram registados 60 atos de pirataria em todo o mundo, o que representa um aumento de 110% em relação a 2023.
Os atos de banditismo, ou seja, os ataques contra navios nas águas territoriais de um Estado, aumentaram 5%, com 280 atos registados.
As duas regiões mais afetadas foram as Caraíbas (42% dos atos) e o Estreito de Singapura (34%).
O Golfo da Guiné, outrora o epicentro da insegurança marítima, registou apenas seis atos de pirataria em 2024, enquanto se contabilizaram 42 outros ao largo da costa da Somália.
A pirataria somaliana incide principalmente em navios envolvidos na pesca ilegal.
Segundo Thomas Scalabre, comandante do MICA Center, o fenómeno assemelha-se a "atos de vingança de pescadores locais ou de piratas somalianos".
Além disso, "a desordem causada pelos [rebeldes] Huthis deu aos piratas somalianos uma janela de oportunidade", disse à Scalabre à agência noticiosa France-Presse (AFP).
Na entrada do Mar Vermelho, o tráfego marítimo foi largamente perturbado pelos ataques levados a cabo pelos Huthis no estreito de Bab El-Mandeb, "em solidariedade" com os palestinianos do Hamas, após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
Eis alguns pontos focados no relatório do MICA Center:
700 munições disparadas
Segundo o relatório, os Huthis dispararam cerca de 700 munições (40% de mísseis balísticos e 56% de 'drones' aéreos) contra navios comerciais ligados a interesses israelitas, britânicos ou norte-americanos.
"Os Huthis afirmam ter atingido mais de 200 navios, mas nós registámos 124 ataques", disse Scalabre.
Destes 124 ataques, 27 navios foram atingidos de forma muito ligeira e puderam continuar a sua viagem. Seis navios foram mais gravemente afetados, com quatro marinheiros mortos. Por último, uma tripulação de 25 marinheiros foi mantida refém durante mais de 430 dias.
"A taxa de precisão dos disparos dos Huthis é bastante baixa, cerca de 7%. Podiam disparar até 12 mísseis balísticos contra um barco e este escapava", sublinhou Scalabre.
Para orientar os seus disparos, os rebeldes iemenitas pró-iranianos utilizam o AIS (Automatic Identification System) dos navios, um dispositivo anticolisão que permite localizá-los em tempo real nas aplicações de consumo.
"Cerca de 85% dos navios atacados tinham o AIS a funcionar. Quando o AIS está desligado, apenas 5% dos navios atacados são atingidos", sublinhou o relatório, admitindo, porém, que "navegar com o AIS ligado expõe os navios a um maior risco".
Aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2)
Apesar da sua falta de precisão, as ações dos Huthis obrigaram muitos dos 27.000 navios que transitam todos os anos pelo Mar Vermelho a contornar África através do Cabo da Boa Esperança, o que provocou um aumento de 26 milhões de toneladas nas suas emissões de dióxido de carbono (CO2, mais +10%), segundo o relatório.
Os rebeldes iemenitas não atacam nenhum navio mercante desde novembro mas, segundo aconselhou Scalabre, "as companhias de navegação devem manter-se cautelosas e não regressarem ao Mar Vermelho".
Outra ameaça à segurança marítima é o tráfico de droga, que "tem um impacto real nas companhias de navegação", dado que 90% da cocaína produzida é transportada por navio, acrescentou o representante.
Grande parte deste tráfico passa por África para ser transportado de forma mais discreta a bordo de navios porta-contentores com destino à Europa.
No relatório é ainda referenciado que, no Equador e na Colômbia, "narco-piratas" armados entram a bordo de navios porta-contentores para esconder uma tonelada de cocaína em menos de uma hora.
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