AMPLA garante que é possível haver mais exibição inclusiva nos cinemas

A exibição inclusiva de um filme, para todos os públicos, ainda é dispendiosa em Portugal, mas fácil de concretizar e há um mercado com capacidade para se expandir, afirmaram à Lusa os programadores da mostra de cinema AMPLA.

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Lusa
08/02/2025 09:58 ‧ há 3 horas por Lusa

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Esta mostra de cinema vai acontecer a partir do dia 14, na Culturgest, em Lisboa, com filmes premiados em 2024 em festivais portugueses, mas com a particularidade de serem exibidos com condições de acessibilidade para todos os públicos, "sem barreiras físicas, sensoriais ou intelectuais".

 

Todos os filmes serão mostrados com legendas descritivas, com interpretação em língua gestual portuguesa, com audiodescrição, e haverá sessões que a organização denomina de "descontraídas", para famílias com crianças e para espectadores com défice de atenção, com deficiência intelectual ou com condição do espetro autista.

"É um direito de as pessoas poderem usufruir de oferta cultural, com ou sem deficiência. E achamos que as pessoas com deficiência estão privadas desse direito", afirmou à agência Lusa Hugo Tornelo, da equipa que organiza esta mostra não competitiva.

O caráter cem por cento inclusivo desta mostra -- que vai na quarta edição - torna-a numa iniciativa rara no país, mas exemplificativa de que é possível exibir cinema com condições de acessibilidade.

"As pessoas sem deficiência devem exigir esse direito", disse Hugo Tornelo.

Na Culturgest, a interpretação em linguagem gestual é pré-gravada e exibida num dos cantos do ecrã em simultâneo com cada filme, e o mesmo acontece com as legendas descritivas, com notas sobre sons relevantes para a narrativa ou com a identificac¸a~o de intervenientes que estejam fora de cena.

Segundo a organização, para as pessoas cegas ou com baixa visão são disponibilizados auriculares -- a requisitar minutos antes de cada sessão -- através dos quais podem ouvir um narrador a descrever, durante as pausas dos dia´logos, a ac¸a~o, a linguagem corporal, as expresso~es faciais, os cena´rios e os figurinos.

"O que é interessante é mostrar que podemos todos coexistir na mesma sala, pessoas que precisem de recursos e pessoas que não precisem. A AMPLA mostra os recursos da forma mais adequada [a cada espectador]", sublinhou Sofia Afonso, que trabalha em audiodescrição.

A organização da AMPLA quer mostrar também aos diferentes responsáveis do setor que "o cinema é uma das áreas onde a acessibilidade está menos representada, mas é uma das áreas onde seria mais fácil de implementar".

"Porque é tudo pré-gravado uma única vez e o recurso ficaria disponível durante toda a carreira de exibição", disse Sofia Afonso.

No entanto, ressalvou, "tornar um filme totalmente acessível desse ponto de vista é bastante dispendioso. Hoje em dia não se fazem sessões totalmente acessíveis, porque alguém tem de pagar os recursos".

Para a própria organização da AMPLA, 80% dos custos de realização da mostra vão para o trabalho de tornar os filmes acessíveis.

"Qual é a nossa dificuldade? Financiamento", disse Rita Gonzalez, também da organização, lembrando que contam com apoio da Culturgest, da Fundação Meo, do Instituto do Cinema e do Audiovisual e de outros apoios pontuais.

Apesar das dificuldades, consideram que estão a ajudar a promover uma "indústria de acessibilidades".

"Há uma série de fornecedores de acessibilidade que queremos trazer para a mostra e acredito que seja um mercado que vai começar a expandir-se cada vez mais. Existem pessoas que fazem audiodescrição, fornecedores de legendas descritivas e a interpretação de língua gestual portuguesa é o mais difícil, mas há mais gente", enumerou Rita Gonzalez.

No dia 13, na véspera do arranque da mostra AMPLA, vai acontecer uma conversa sobre acessibilidade, com a presença de representantes da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas, da NOS Lusomundo Audiovisuais e do Instituto do Cinema e do Audiovisual.

A participação de responsáveis do setor nas edições anteriores da AMPLA deu já alguns frutos. Segundo a organização, a exibidora Castello Lopes vai ter, em todas as salas, uma sessão inclusiva do filme "Oh Canada", de Paul Schrader, que se estreia a 20 de fevereiro.

Isto significa que nessas sessões, os espectadores podem ver "Oh Canada" com legendas descritivas, com linguagem gestual portuguesa ou com audiodescrição, através de uma aplicação que é preciso descarregar para o telemóvel e que terá aquelas ferramentas de acessibilidade sincronizadas com o filme.

A organização da AMPLA já testou a utilização da aplicação na sala de cinema e dispõe de alguns suportes de telemóvel para colocar nos lugares destinados aos espectadores que a utilizem. Esta prática já acontece noutros países.

"Estamos muito focados em mostrar a experiência espanhola e alemã e dar algumas ideias que podem servir de inspiração para fazer [o mesmo] em Portugal", disse Rita Gonzalez.

A AMPLA decorrerá nos dias 14 e 15, 21 e 22 e, entre os filmes escolhidos, estão "Percebes", documentário animado de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves premiado no Cinanima e no Curtas de Vila do Conde, e "Oddity", Damian McCarthy, distinguido no MOTELX.

Estão lá também "Sem Coração", de Nara Normande & Tião, premiado no Queer Lisboa, e "Beautiful Men", animação de Nicolas Keppens, premiado no Cinanima, que é candidato aos Óscares deste ano.

Esta mostra acontece numa altura em que decorre uma petição pública assinada por 22 associações -- incluindo a organização da AMPLA -, na qual se exigem "medidas urgentes e concretas" para que as salas de cinema sejam inclusivas.

As 22 associações signatárias apelam "à criação de um plano nacional de acessibilidade ao cinema", porque "a experiência cinematográfica ainda permanece inacessível para uma parte significativa da população".

Leia Também: 'Ainda estou aqui' é há três semanas o filme mais visto em Portugal

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