"No 'plano de paz' do Presidente Zelensky, há um ponto - o ponto número quatro -- que proporciona este tipo de cooperação com diferentes países europeus", afirmou a embaixadora à agência Lusa, à margem de uma audição no parlamento português, explicando que o seu país precisa de investimento.
Apresentado em outubro de 2024 no parlamento ucraniano, depois de ter sido discutido com Washington, ainda com a administração norte-americana democrata de Joe Biden, o "plano da vitória" de Zelensky passava por um convite à Ucrânia para aderir à NATO, pela obtenção de permissão dos aliados para usar armas de longo alcance no território russo, pela criação de um pacote de dissuasão estratégica não nuclear em solo ucraniano e pela substituição, no período pós-guerra, de algumas tropas dos EUA posicionadas na Europa por soldados ucranianos.
Além disso, o plano incluía um ponto que visava a "proteção conjunta pelos EUA e pela União Europeia dos recursos naturais essenciais da Ucrânia e uso conjunto do seu potencial económico", medida que, segundo a embaixadora ucraniana, abrange a proposta do atual Presidente norte-americano, o republicano Donald Trump.
Numa entrevista divulgada na terça-feira, Trump garantiu que tinha com a Ucrânia um "acordo de princípio" para os Estados Unidos receberem 500 mil milhões de dólares em terras raras como pagamento pela ajuda militar de Washington a Kiev.
Trump explicou que a Ucrânia tem "terrenos valiosos em termos de terras raras, petróleo e gás e outras coisas", referindo-se à existência, no território ucraniano, de 17 elementos químicos essenciais para o desenvolvimento tecnológico, nomeadamente na criação de dispositivos eletrónicos como discos rígidos ou ecrãs de telemóveis.
"Quero o nosso dinheiro garantido. Disse-lhes que queria o equivalente a, digamos, 500 mil milhões de dólares por terras raras, e eles basicamente concordaram em fazer isso, para que pelo menos não nos sintamos estúpidos", afirmou Trump na entrevista.
Sublinhando à Lusa que o objetivo do Presidente norte-americano "não é nada ultrajante", a embaixadora garantiu, no entanto, que não há ainda nenhum acordo.
"As conversações entre a equipa do Presidente Trump com a equipa do meu Presidente [Zelensky] e com alguns dos líderes da União Europeia estão em curso, por isso não temos nenhuma proposta oficial do Presidente Trump, porque eles primeiro decidiram falar com diferentes partes e depois finalizar a sua proposta", explicou.
O plano de paz ucraniano "proporciona este tipo de cooperação" e "é por isso que estamos prontos para discutir esta questão com os nossos amigos americanos", acrescentou.
A embaixadora adiantou ainda que o secretário de Estado do Tesouro (equivalente ao ministro das Finanças) norte-americano deverá ir em breve à Ucrânia para discutir esta questão específica.
"Então, depois disso, perceberemos do que se trata", concluiu.
O anúncio da visita de Scott Bessent a Kiev foi avançado na terça-feira por Trump, sem referir datas específicas.
Numa mensagem publicada na sua rede social Truth, o Presidente norte-americano garantiu que a guerra "deve e vai ter um fim rápido" e sublinhou que os Estados Unidos "gastaram milhares de milhões de dólares com poucos resultados".
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.
Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.
O conflito de quase três anos provocou a destruição de importantes infraestruturas em várias áreas na Ucrânia, bem como um número por determinar de vítimas civis e militares.
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