"A Alemanha tem um problema de racismo estrutural, de que somos vítimas"

A portuguesa Eva Oliveira, responsável do conselho de migrações de Heidelberg, no sudoeste da Alemanha, afirma que há um "racismo estrutural" no país e que os ataques xenófobos são desvalorizados, deixando os migrantes vulneráveis.

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Lusa
13/02/2025 10:23 ‧ há 3 horas por Lusa

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Alemanha/Eleições

"A Alemanha tem um problema de racismo estrutural, de que nós somos vítimas diariamente, todos nós", disse, em entrevista à Lusa, Eva Oliveira, que preside desde setembro ao Conselho Municipal das Migrações da cidade universitária de Heidelberg, a menos de 100 quilómetros de Frankfurt.

 

"Se nós dissermos alguma coisa ou se nos defendermos contra isso, perdemos os nossos empregos. Se dissermos que estamos a ser vítimas de racismo, dizem que não é verdade", relatou, acrescentando: "É muito difícil quando se é uma minoria".

Eva Oliveira afirma que "não há uma instância de controlo e os tribunais não são suficientes".

"Não havendo ali uma instância que nos proteja verdadeiramente, nós no dia a dia vamos sofrer sempre", considerou a responsável, que vive na Alemanha desde 1997.

Na sua opinião, "o problema é que, no fim da Segunda Guerra Mundial, não houve um remover das pessoas que faziam parte do Terceiro Reich, para retirar do sistema este pensamento, portanto, ele manteve-se até hoje".

"As pessoas continuam a pensar assim e acham que é normal", disse.

O tema das migrações tem dominado o debate para as eleições legislativas antecipadas do próximo dia 23, tendo ganhado mais força após um ataque de um refugiado afegão, que matou à facada uma criança de 2 anos e um adulto, no sul do país, em janeiro.

O líder conservador (CDU), Friedrich Merz, favorito nas sondagens, prometeu endurecer as políticas de migração, fechando as fronteiras mesmo a requerentes de asilo, o que mereceu o apoio da Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita), em segundo lugar nas intenções de voto.

Os adversários, nomeadamente o chanceler, Olaf Scholz (Partido Social Democrata, SPD) e os Verdes, na coligação no poder, afirmaram que estas propostas são ilegais e acusar Merz de romper o 'cordão sanitário' contra a extrema-direita, apesar deste insistir que não fará acordos com a AfD.

Os partidos da direita, afirma Eva Oliveira, "pegam em pequenos casos" de ataques de refugiados.

"É lógico que isto não é bom, ninguém está a defender nada disto", referiu a responsável, que assinalou que aos refugiados "não é dado o acompanhamento psicológico e psiquiátrico de que necessitam, porque isso é uma coisa que a Alemanha se recusa a fazer, e muitos deles vêm traumatizados".

Eva Oliveira relatou que "da mesma forma que há estes ataques, há a mesma quantidade de pessoas que se suicidam, exatamente por não estarem a ser acompanhadas devidamente", algo com que se confronta diariamente no seu trabalho diário, na Cruz Vermelha.

Mas, por outro lado, "também há ataques de alemães, de muitos 'alemães puros' aqui na Alemanha, a estrangeiros, a refugiados e imigrantes", comentou.

Mas, lamentou, "isso não aparece nas notícias ou aparece nas notícias num cantinho só".

As estatísticas mostram "uma diferença assustadora" em número de "ataques de motivação racista, nazi e extremista", disse.

Eva Oliveira defende que é preciso "abordar este tema", mas as autoridades recusam, dizendo que "foi só um caso isolado, de uma pessoa com um problema psicológico".

"Portanto, é sempre desculpado, tratando-se daquele alemão que a sociedade aceita", lamentou.

Leia Também: Marco Rubio participa em Conferência de Segurança na Alemanha

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