O ex-presidente Dmitri Medvedev, autor frequente de diatribes antiocidentais desde o ataque à Ucrânia, há três anos, considerou que a conversa entre os presidentes russo e norte-americano destruiu a estratégia do Ocidente de isolar Putin e "punir e humilhar" a Rússia.
Segundo Medvedev, atual número dois do Conselho de Segurança da Rússia, o ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os aliados europeus colocaram "o mundo à beira de um apocalipse nuclear".
"É impossível pôr-nos de joelhos. E quanto mais cedo os nossos adversários se aperceberem disso, melhor", acrescentou numa mensagem que divulgou nas redes sociais, citada pela agência francesa AFP.
O presidente da Comissão dos Assuntos Externos da Duma (câmara baixa do parlamento), Leonid Slutski, também se congratulou com o facto de a conversa entre Trump e Putin, na quarta-feira, ter "quebrado o bloqueio antirrusso".
Na opinião de Slutski, a conversa "lançou mesmo o processo de descongelamento" das relações entre Moscovo e Washington.
O vice-presidente do Conselho da Federação (câmara alta), Konstantin Kossachev, um veterano da diplomacia russa, avisou que ainda há um longo caminho a percorrer antes de qualquer apaziguamento real.
Segundo Kossachev, a abordagem de Trump está longe de ser unanimemente aceite no Ocidente.
"Tudo está por fazer. Que o bom senso prevaleça", aconselhou nas redes sociais.
O senador Alexei Pushkov disse ter a certeza de que as pessoas em Kiev, Bruzelas, Paris e Londres estavam "a ler com horror o longo comentário de Trump sobre a conversa com Putin" e não conseguiam acreditar no que liam.
No entanto, Pushkov admitiu também que as negociações serão "sem dúvida muito difíceis".
Nas ruas, os russos ouvidos pela AFP mostraram-se cautelosamente otimistas, esperando o fim do conflito na Ucrânia.
A guerra provocou já dezenas de milhares de mortos e feridos, e consequências económicas para a população, incluindo uma inflação elevada, o desaparecimento de bens de consumo ocidentais de uso corrente e o fim das ligações aéreas diretas com a Europa.
Mas num país onde as críticas ao Kremlin ou à invasão da Ucrânia são punidas com pesadas penas de prisão, as vozes discordantes raramente são ouvidas em público.
"As notícias são, naturalmente, boas e encorajadoras", disse Nikolai Gridassov, um professor de Matemática de 58 anos, entrevistado no distrito central de Moscovo.
"Esperamos realmente que, de uma forma ou de outra, conduzam a uma resolução pacífica do que está a acontecer neste momento", acrescentou.
Sonia Liatifova, 35 anos, que passeava na rua com os filhos gémeos, disse sentir-se feliz com o reinício do diálogo russo-americano, afirmando-se a favor da paz e confiante no "Presidente [russo] muito experiente".
Artour Ievseiev, um desminador de 45 anos que combateu na Ucrânia e está atualmente a ser tratado depois de ter sido ferido por estilhaços, disse não acreditar numa resolução rápida do conflito.
"Penso que todas estas negociações se vão arrastar. Haverá longas discussões durante muito tempo", afirmou, enquanto vestia o uniforme de camuflagem.
Mas o veterano disse estar convencido do resultado final.
"Vamos ganhar, isso é claro. Mais cedo ou mais tarde, os ucranianos vão render-se", porque "a Europa abandonou-os" e Trump "está irritado porque não quer continuar a patrociná-los", justificou.
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