Depois de reunir-se com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, em Munique, na Alemanha, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que este foi o primeiro encontro, não o último. O chefe de Estado ucraniano também disse que é necessário um plano para "parar Putin".
Já segundo a NBC News, Vance disse que os dois líderes tiveram "conversas frutíferas" sobre a guerra na Ucrânia.
"O objetivo é tal como o presidente Trump o delineou. Queremos que a guerra chegue ao fim. Queremos que a matança termine, mas queremos alcançar uma paz duradoura, não o tipo de paz que vai colocar a Europa de Leste em conflito novamente daqui a apenas alguns anos", disse o vice-presidente norte-americano.
"Tivemos uma série de boas conversas sobre a forma de o conseguirmos juntos e teremos certamente muitas mais nos próximos dias, semanas e meses", acrescentou.
Zelensky aproveitou também a oportunidade para agradecer aos Estados Unidos e a Trump por apoiarem a Ucrânia e disse que vão trabalhar num plano sobre "como parar Putin e terminar a guerra". No entanto, afirmou na reunião que a Ucrânia quer "garantias de segurança" antes de quaisquer negociações.
Já na rede social X, escreveu: "Estamos prontos para avançar o mais rapidamente possível para uma paz real e garantida".
A delegação dos EUA que hoje reuniu com o presidente ucraniano inclui o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o enviado especial de Trump para a Ucrânia e a Rússia, Keith Kellogg.
Trump pôs fim a anos de apoio firme dos Estados Unidos à Ucrânia esta semana, após um telefonema de hora e meia com Putin.
Muitos observadores, especialmente na Europa, esperavam que Vance esclarecesse pelo menos um pouco as ideias de Trump sobre uma solução negociada para a guerra.
Na sua intervenção na Conferência de Segurança de Munique, Vance deu um sermão aos responsáveis europeus sobre a liberdade de expressão e a imigração ilegal no continente, avisando-os de que se arriscam a perder o apoio da opinião pública se não mudarem rapidamente de rumo.
"A ameaça que mais me preocupa em relação à Europa não é a Rússia, não é a China, não é qualquer outro ator externo. O que me preocupa é a ameaça que vem de dentro, o recuo da Europa em relação a alguns dos seus valores mais fundamentais, valores partilhados com os Estados Unidos da América", disse Vance, alertando os líderes europeus: "Se tendes medo dos vossos próprios eleitores, não há nada que a América possa fazer por vós".
O discurso de Vance e a sua referência de raspão à guerra na Ucrânia, que já dura há quase três anos, surgiram numa altura de grande preocupação e incerteza quanto à política externa do governo Trump.
"Em Washington, há um novo xerife na cidade. E sob a liderança de Donald Trump, podemos discordar das vossas opiniões, mas lutaremos para defender o vosso direito de as apresentar na praça pública", declarou Vance, obtendo fracos aplausos.
O 'número dois' da administração Trump insistiu na questão da imigração ilegal, afirmando que o eleitorado europeu não votou a favor da abertura de "comportas a milhões de imigrantes não-verificados", e referindo-se ao ataque ocorrido na quinta-feira em Munique, um atropelamento que fez mais de 30 feridos, aparentemente com motivação extremista islâmica, perpetrado por um cidadão afegão de 24 anos que entrou na Alemanha em 2016 como requerente de asilo.
Horas antes da reunião entre Zelensky e Vance, um 'drone' (aeronave não-tripulada) com uma ogiva altamente explosiva atingiu o perímetro de proteção da Central Nuclear de Chernobyl, na região de Kyiv, informou o Presidente ucraniano.
Os níveis de radiação não aumentaram, segundo Zelensky e a agência atómica da ONU.
Em Munique, o chefe de Estado ucraniano disse à comunicação social que pensa que o ataque de 'drone' a Chernobyl foi "uma saudação muito clara de Putin e da Federação Russa à conferência sobre segurança".
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou hoje as acusações da Ucrânia, e a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, afirmou que os organizadores de Munique não convidam a Rússia há vários anos.
Recorde-se que o encontro aconteceu para discutir a forma de negociar uma solução para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Antes, o chefe de Estado ucraniano já tinha dito que só aceitará reunir-se pessoalmente com Putin depois de ser negociado um plano comum com o presidente dos Estados Unidos. Além disso, adiantou que Trump lhe deu o número de telemóvel pessoal.
Portugal diz que UE será "muitíssimo relevante" no pós-guerra na Ucrânia
De realçar que hoje o chefe da diplomacia portuguesa, Paulo Rangel, defendeu que a União Europeia (UE) será "muitíssimo relevante" no pós-guerra na Ucrânia e terá "um papel ativo" nas negociações de paz, após o "pontapé de saída" da administração norte-americana.
"Se olharmos para aquilo que são os cenários de saída deste conflito, a União Europeia tem sempre um papel muitíssimo relevante, para não dizer decisivo neles, designadamente naquilo que será o pós-guerra", a nível da construção da paz e da reconstrução do país, "e isso implica que a União Europeia venha a ter também um lugar e um papel ativo no quadro negocial que se venha a desenvolver", afirmou o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, em entrevista por telefone à agência Lusa, à margem da Conferência de Segurança de Munique, que arrancou hoje nesta cidade no sul da Alemanha.
A solução futura, salientou, passa por um "envolvimento enorme" da UE na Ucrânia, a nível militar - para dar "garantias de segurança", eventualmente com a presença de forças de países europeus naquele país -, financeiro - para a reconstrução -, e também na integração europeia.
[Notícia atualizada às 19h44]
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