Num relatório publicado hoje, a organização, com sede em Londres, indica que investigou as condições dos marinheiros norte-coreanos em navios chineses, concluindo que alguns são obrigados a navegar até 10 anos sem pôr os pés em terra, sofrendo por vezes abusos físicos e verbais.
Pyongyang, que possui armas nucleares, há muito que institucionalizou o trabalho dos seus cidadãos no estrangeiro, nomeadamente em países vizinhos como a China e a Rússia.
O país retém até 90% dos salários dos seus trabalhadores no estrangeiro, de acordo com um relatório publicado no ano passado pelo Departamento de Estado dos EUA.
Para evitar que este dinheiro seja utilizado para financiar os programas nucleares e balísticos de Pyongyang, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU de 2017, apoiada pela China, exige a expulsão dos trabalhadores norte-coreanos no estrangeiro.
Mas os especialistas acusam Pequim e Moscovo de violarem esta resolução e o Departamento de Estado norte-americano estimou, em 2024, que entre 20.000 e 100.000 norte-coreanos continuavam a trabalhar na China, principalmente em restaurantes e fábricas.
A ONG britânica também se debruçou sobre os casos dos marinheiros norte-coreanos. Obteve testemunhos de cerca de 10 tripulantes indonésios e filipinos que navegaram a bordo de navios chineses no Oceano Índico entre 2019 e 2024.
"Alguns norte-coreanos a bordo foram forçados a navegar durante quase uma década, por vezes sem nunca terem posto os pés em terra", relata a investigação.
"Sempre que os víamos, [os norte-coreanos] pareciam estar sob muita pressão", disse um membro da tripulação indonésia.
"Trata-se de trabalho forçado a uma escala que excede em muito a observada na indústria pesqueira global, onde já existem muitos abusos", concluiu o documento.
A ONG acusou os navios que transportam os marinheiros norte-coreanos de estarem envolvidos no corte de barbatanas de tubarões e na captura de golfinhos.
O relatório indicou ainda que os navios que empregam mão-de-obra norte-coreana podem ter abastecido os mercados europeu, britânico, japonês, sul-coreano e taiwanês.
"O peixe capturado por esta mão-de-obra ilegal abastece os mercados de todo o mundo", declarou Steve Trent, fundador da EFJ, em comunicado.
"A China tem uma grande quota-parte de responsabilidade, mas quando os produtos da escravatura moderna acabam nos nossos pratos, é evidente que os governos e os reguladores também têm de desempenhar o seu papel", insistiu.
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