"O Reino Unido apela à cessação imediata das hostilidades, ao acesso humanitário, ao respeito pelo direito humanitário internacional, a um envolvimento significativo nos processos de paz liderados por África e à retirada de todas as Forças de Defesa do Ruanda do território congolês", afirmou um porta-voz.
Até que se registem "progressos significativos", o Governo decidiu cessar a representação a alto nível em eventos promovidos pelo Ruanda, limitar atividades de promoção comercial bilaterais, suspender a ajuda financeira e futuro treino militar.
Londres pretende ainda coordenar com outros países eventuais novas sanções e ameaça suspender licenças de exportação de equipamento militar.
A decisão foi tomada na sequência da viagem do ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy, ao continente africano na semana passada para a cimeira do G20, após a qual se reuniu com o líder da RDCongo, Felix Tshisekedi, na capital congolesa, Kinshasa, na sexta-feira, e depois com o Presidente Paul Kagame, na capital do Ruanda, Kigali, no sábado.
Lammy considerou os avanços da Força de Defesa do Ruanda e do M23 no leste da República Democrática do Congo uma violação da soberania do país e exigiu a retirada imediata das tropas ruandesas.
Segundo um porta-voz, durante os dois encontros "o ministro deixou bem claro que não pode haver uma solução militar para o conflito" e "exortou ambos os líderes a empenharem-se de forma significativa e de boa-fé nos processos de paz conduzidos em África para encontrar uma solução política duradoura".
"O Reino Unido continuará a discutir com os parceiros africanos e outros o que mais pode fazer para apoiar estes esforços", acrescentou.
O Governo britânico alertou para a situação humanitária "crítica" no leste da RDCongo devido a cerca de um milhão de pessoas deslocadas e centenas de milhares de pessoas a necessitar de apoio.
Durante a visita, o ministro anunciou um pacote adicional de 14,6 milhões de libras (17,6 milhões de euros) de apoio humanitário.
Segundo o porta-voz, o ministro dos Negócios Estrangeiros defende a necessidade de uma "resposta enérgica da comunidade internacional em resposta à intensificação do conflito".
Nas últimas semanas, o Reino Unido terá discutido a questão no âmbito do G7, do Grupo Internacional de Contacto para os Grandes Lagos, Conselho de Segurança das Nações Unidas e Conselho dos Direitos Humanos.
Desde 1998 que o leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU (Monusco).
Nas últimas semanas, o grupo armado M23, constituído principalmente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994, tomou Goma e Bukavu, duas grandes cidades no leste da RDCongo.
O Governo congolês acusa Kigali de apoiar o M23, enquanto o Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de cooperar com as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), um grupo fundado em 2000 por líderes do genocídio e outros ruandeses exilados para recuperar o poder político no seu país.
Cerca de 4.000 soldados ruandeses estão presentes no leste da RDCongo e os últimos combates já causaram quase 3.000 mortos, segundo a ONU.
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