A primeira análise sistemática nacional da abundância de borboletas descobriu que o número de borboletas nos 48 estados mais a sul tem vindo a cair em média 1,3% por ano desde a viragem do século, com 114 espécies a apresentarem declínios significativos e apenas nove a aumentar, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira na revista Science-
"As borboletas têm vindo a diminuir nos últimos 20 anos. E não vemos sinais de que isto vá acabar", alertou o coautor do estudo, Nick Haddad, entomologista da Universidade Estadual do Michigan.
Uma equipa de cientistas combinou 76.957 inquéritos de 35 programas de monitorização e misturou-os para uma comparação de igual para igual e acabou por contar 12,6 milhões de borboletas ao longo das décadas. Muitas das espécies em declínio caíram 40% ou mais.
Para David Wagner, um entomologista da Universidade de Connecticut que não fez parte do estudo, esta é uma perda "catastrófica e triste", frisando que embora a taxa anual de declínio possa não parecer significativa, é agravada ao longo do tempo.
Os Estados Unidos têm 650 espécies de borboletas, mas 96 espécies eram tão dispersadas que não apareceram nos dados e outras 212 espécies não foram encontradas em número suficiente para calcular tendências, explicou o principal autor do estudo, Collin Edwards, ecologista e cientista de dados do Departamento de Pesca e Vida Selvagem de Washington.
"Provavelmente, estou mais preocupada com as espécies que nem sequer puderam ser incluídas nas análises" porque são muito raras, vincou a entomologista Karen Oberhauser, da Universidade de Wisconsin-Madison, que não participou na investigação.
Algumas espécies bem conhecidas apresentaram quedas grandes. O almirante-vermelho, que é tão calmo que pousa nas pessoas, caiu 44% e a borboleta-americana, com duas grandes manchas oculares nas asas traseiras, diminuiu 58%, detalhou Edwards.
Até a borboleta invasora da couve branca, "uma espécie bem adaptada para invadir o mundo", segundo Haddad, caiu 50%.
O especialista em borboletas da Universidade de Cornell, Anurag Agrawal, realçou que se preocupa mais com o futuro de uma espécie diferente: os humanos.
"A perda de borboletas, papagaios e golfinhos é, sem dúvida, um mau sinal para nós, para os ecossistemas de que necessitamos e para a natureza de que desfrutamos", destacou Agrawal, que não participou no estudo.
O que está a acontecer com as borboletas nos Estados Unidos está provavelmente a acontecer com outros insetos menos estudados no continente e no mundo, frisou Wagner.
As borboletas também são polinizadoras, embora não tão proeminentes como as abelhas, e são uma importante fonte de polinização da cultura do algodão do Texas, vincou Haddad.
As alterações climáticas, a perda de habitat e os inseticidas tendem a trabalhar em conjunto para enfraquecer as populações de borboletas, alertaram Edwards e Haddad.
Dos três, parece que os inseticidas são a maior causa, com base em investigações anteriores do Centro-Oeste dos EUA, disse Haddad.
Os habitats podem ser restaurados, assim como as borboletas, por isso há esperança, apontou Haddad, concluindo: "Pode fazer mudanças no seu quintal, no seu bairro e no seu estado. Pode realmente melhorar a situação de muitas espécies".
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