Presidente da Tunísia demite quarto primeiro-ministro em quatro anos

O presidente tunisino, Kais Saied, demitiu hoje o seu primeiro-ministro, menos de oito meses depois de o ter nomeado, na quarta destituição de um chefe de Governo desde que reforçou os seus poderes presidenciais, há quatro anos.

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Lusa
21/03/2025 15:28 ‧ há 6 horas por Lusa

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Tunísia

Para substituir Kamel Madouri, o presidente escolheu a ministra do Equipamento, Sarra Zaafrani Zenzri, engenheira civil de formação, numa altura em que o país atravessa graves dificuldades socioeconómicas e é criticado pelas Nações Unidas pela prisão de opositores.

 

A presidência anunciou a demissão de Madouri numa curta declaração publicada na rede social Facebook, sem adiantar qualquer explicação.

Saied pediu a Zaafrani que coordene melhor "o trabalho do Governo" e que ultrapasse "os obstáculos à concretização das expectativas do povo tunisino".

Nas últimas semanas, o Presidente deixou clara a sua insatisfação com a ação do executivo.

"Chegou o momento de todos os dirigentes serem responsabilizados, independentemente do cargo que ocupam", afirmou Saied, rodeado de ministros e agentes de segurança, num outro vídeo publicado pouco antes do anúncio da demissão.

O chefe de Estado considerou igualmente suspeita uma recente vaga de movimentos sociais e de imolações pelo fogo.

"Tudo isto coincidiu com o início do julgamento dos arguidos no processo de conspiração contra a segurança do Estado", afirmou, acrescentando: "Não há necessidade de dizer mais nada".

Dezenas de pessoas, incluindo algumas das figuras mais proeminentes da oposição tunisina, estão a ser julgadas neste caso, que começou a 04 de março e foi denunciado como "político" por ativistas dos direitos humanos.

Desde o golpe de força de Saied, em 25 de julho de 2021, que os seus opositores qualificam de "golpe de Estado", organizações não-governamentais (ONG) tunisinas e estrangeiras têm lamentado a regressão dos direitos e das liberdades no país que deu origem à chamada 'Primavera Árabe'.

Kais Saied começou por demitir o seu primeiro-ministro e congelar o parlamento e reviu a Constituição para restabelecer um regime 'ultra-presidencial', em que tem de facto plenos poderes.

Em agosto de 2024, procedeu a uma profunda remodelação do governo e nomeou Madouri, um alto funcionário especializado em assuntos sociais, como primeiro-ministro. Mudou também 19 ministros, justificando a sua decisão com razões de "segurança nacional".

No início de fevereiro, demitiu a meio da noite a ministra das Finanças, substituindo-a por um magistrado.

Zaafrani, 62 anos, torna-se a segunda mulher a chefiar o Governo na Tunísia, depois de Najla Bouden, primeira-ministra de outubro de 2021 a agosto de 2023.

Najla Bouden foi demitida numa altura de escassez, particularmente de pão nas padarias subsidiadas, e substituída por um antigo executivo do Banco Central, Ahmed Hachani, que foi ele próprio substituído no verão passado.

Saied foi reeleito em 06 de outubro de 2024 por uma esmagadora maioria de votos (mais de 90%), numa eleição marcada, no entanto, por uma taxa de participação muito baixa, inferior a 30%.

A Tunísia atravessa uma profunda crise económica, com um crescimento de apenas 0,4% em 2024, uma taxa de desemprego de 16% e uma dívida equivalente a cerca de 80% do seu Produto Interno Bruto (PIB).

Muito próximo da vizinha Argélia, que apoia a Tunísia com empréstimos e fornecimentos de hidrocarbonetos a preços amigáveis, Saied interrompeu, há mais de um ano, as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que lhe tinha proposto um empréstimo de 2 mil milhões de dólares (cerca de 1,85 mil milhões de euros) em troca de uma série de reformas, nomeadamente nas subvenções estatais aos produtos energéticos.

Leia Também: Resgatados 612 migrantes subsarianos e recuperados 18 corpos na Tunísia

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