O conselheiro de segurança nacional Mike Waltz visita a Gronelândia esta semana, indicou Mute Egede, tal como o secretário da Energia, Chris Wright, de acordo com a imprensa norte-americana.
Dois grandes aviões militares Hércules pertencentes à equipa de segurança aterraram em Nuuk, no domingo.
Usha Vance, a mulher do vice-Presidente dos Estados Unidos, JD Vance, efetuará igualmente uma visita oficial de quinta-feira a sábado com uma delegação para assistir a uma corrida de cães de trenó, de acordo com a Casa Branca.
O programa ainda não foi divulgado, mas é possível que visitem a base norte-americana de Pittufik.
"A nossa integridade e a nossa democracia devem ser respeitadas, sem qualquer interferência externa", reagiu Egede na rede social Facebook.
Estas viagens mostram "uma apetência inapropriada por parte dos norte-americanos", acrescentou o chefe de diplomacia dinamarquesa, Lars Løkke Rasmussen, à cadeia de televisão TV2.
"Acabaram de se realizar eleições na Gronelândia e, de momento, não existe um governo" local, sublinhou Rasmussen, salientando que, no passado, os norte-americanos tinham uma presença militar mais forte na ilha.
"Se for necessário fazer mais, gostaríamos de discutir o assunto com os norte-americanos, mas isso deve ser feito no respeito fundamental" pela soberania do Reino da Dinamarca, do qual a Gronelândia faz parte, insistiu.
Desde as eleições legislativas de 11 deste mês, a Gronelândia tem estado em negociações para formar um governo de coligação.
"Os norte-americanos foram informados de forma inequívoca de que não pode haver reuniões até à tomada de posse de um novo governo", declarou Mute Egede, que dirige um governo provisório desde a derrota do seu partido ecologista de esquerda.
No domingo, numa entrevista ao diário gronelandês Sermitsiaq, Egede apelou aos aliados europeus para que reajam e demonstrem apoio de forma mais firme.
"O novo Governo norte-americano está a fazer pouco do que construímos juntos. O único objetivo agora é apoderar-se do nosso país, sem nos consultar", disse um indignado Mute Egede, que vê a visita da delegação norte-americana à Gronelândia como uma prova disso.
"Não se trata de uma visita casual da mulher de um político. Porque é que um conselheiro de segurança nacional se deslocaria à Gronelândia? O único objetivo é impor uma demonstração de força [...]. A simples presença na Gronelândia vai reforçar a convicção dos norte-americanos de que a anexação é viável e a pressão vai aumentar depois desta visita", insistiu.
O provável sucessor, Jens-Frederik Nielsen, líder de centro-direita que ganhou as eleições, disse compreender "as preocupações" dos concidadãos.
"Não seremos forçados a entrar num jogo de poder em que não escolhemos participar. Nós decidimos por nós próprios o caminho a seguir", escreveu no Facebook.
Ulrik Pram Gad, investigador do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) que o anúncio desta visita oficial por parte dos Estados Unidos constitui "uma ação agressiva" que vai contra toda a tradição diplomática.
"Quando um país está a tentar formar um governo, como vizinho, amigo ou aliado, normalmente não nos envolvemos. Não foram convidados pelos gronelandeses, não foram convidados pelos dinamarqueses, simplesmente anunciaram que iam", sublinhou.
Os Estados Unidos são agora vistos como uma ameaça para a Gronelândia, defende Ulrik Pram Gad.
Em meados deste mês, Trump afirmou que a anexação dos Estados Unidos ia "acabar por acontecer" e promover a "segurança internacional".
Embora todos os principais partidos da Gronelândia sejam a favor da independência do território a mais ou menos longo prazo, nenhum apoia a ideia de uma anexação por Washington. Também as sondagens de opinião indicam que a população de 57.000 habitantes é esmagadoramente contra.
A Gronelândia, que é quatro vezes maior do que a França, tem um interesse estratégico devido à localização - encontra-se na rota mais curta para a trajetória de quaisquer mísseis entre os Estados Unidos e a Rússia - e às riquezas minerais.
Leia Também: Gronelândia acusa EUA de ato de ingerência com visita ao território