De acordo com um comunicado conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), em que foram anunciados os mais recentes dados da análise da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC), este é o número mais elevado alguma vez registado de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda na República Democrática do Congo (RDCongo).
Assim, segundo o documento, "um número alarmante de 28 milhões de pessoas na RDCongo enfrenta atualmente uma situação de fome aguda (IPC Fase 3 e superior) - um número que aumentou em 2,5 milhões desde o mais recente surto de violência em dezembro", anunciaram as agências da ONU.
Segundo o PAM e a FAO, nos últimos seis meses uma crise alimentar cada vez mais grave tem vindo a afetar a população congolesa, onde o conflito, a instabilidade económica e o aumento dos preços dos alimentos colocaram milhões de pessoas em risco.
"As pessoas deslocadas internamente que fogem da violência continuam a ser das mais vulneráveis, suportando o peso do agravamento da crise alimentar", lamentaram.
Segundo os dados da IPC, citados pela ONU, dos 28 milhões estão ainda 3,9 milhões de pessoas que estão a passar fome a níveis de emergência (IPC Fase 4).
Para a ONU, a situação humanitária na RDCongo está a "deteriorar-se a um ritmo alarmante", sendo "particularmente grave nas províncias orientais da RDCongo" afetadas pelo conflito entre o exército e o Movimento 23 de Março (M23), constituído por tutsis que fugiram do genocídio de 1994 no Ruanda.
Por sua vez, a desvalorização da moeda (franco congolês) e consequente inflação, o encerramento de bancos e a perda de rendimentos dificulta cada vez mais o acesso das famílias a produtos básicos, explicaram.
"Alimentos básicos como a farinha de milho, o óleo de palma e a farinha de mandioca estão a registar aumentos de preços até 37% em comparação com os níveis anteriores à crise (dezembro de 2024)", exemplificaram as agências.
O PAM e a FAO apelaram também à comunidade internacional para que reforce o financiamento e o acesso humanitário de forma a evitar-se "uma catástrofe em grande escala".
O Presidente angolano, João Lourenço, recebeu quarta-feira, em Luanda, o homólogo da RDCongo, Félix Tshisekedi, três dias depois de anunciar que iria abandonar o papel de mediador no conflito.
O fim da mediação angolana ocorreu depois de, na semana passada, os Presidentes da RDCongo e do Ruanda, Félix Tshisekedi e Paul Kagame, respetivamente, se reunirem em Doha com o emir do Qatar, para discutir o conflito que opõe as forças governamentais ao M23, apoiado pelo Ruanda (segundo a ONU e países como os Estados Unidos, Alemanha e França).
A atividade armada do M23 recomeçou em novembro de 2021 com ataques contra o exército governamental no Kivu do Norte, tendo avançado em várias frentes, o que ameaça uma escalada para uma guerra regional.
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